Olhar Jurídico

Domingo, 05 de maio de 2024

Artigos

MT: Enclave ou Dinamismo?

Frequentemente sou indagado sobre o que esperar da economia de Mato Grosso, tendo em vista que ela é pautada pelo modelo primário-exportador.

Em verdade não são indagações, mas, sim, afirmações negativas a respeito do seu futuro.

É fato, que anteriormente a divisão territorial de 1977 e a estabilidade da economia brasileira de 95, Mato Grosso vivia uma economia primária, sem muitas perspectivas de transformação e dinamismo.

Seus ciclos foram semelhantes aos da economia brasileira com este ou aquele produto natural de extração.

Até existiu, sim, tentativas de sua diversificação com algumas industrializações primárias em torno de produtos naturais, carnes e cana-de-açúcar, entretanto, devido a insuficiência de tecnologias modernas, infraestrutura e denso mercado consumidor aqueles esforços arrefeceram-se.

No entanto, com a divisão, num primeiro momento, o poder político redistribui-se e reequilibra-se oportunizando a implementação de novas ações políticas e econômicas.

Apesar da “década perdida” refletir fortemente sobre a economia mato-grossense, também, buscaram-se fortalecer a estrutura produtiva e fundiária do Estado, visando a criação de um ambiente mais propício a transformações econômicas.
Com a estabilidade econômica alcançada a ferro e fogo novos investimentos são encorajados diante do horizonte de planejamento que passa a fazer parte da rotina do setor empresarial e governamental.

No entanto, diante de sua forte vocação produtiva primária e da “travessia” reestruturante das contas públicas nacionais e sub-nacionais, a agropecuária ganha fôlego e força alcançando, a partir de 1995, resultados expressivos sobre o produto interno bruto de Mato Grosso.

Toda essa lufada produtiva primária tem origem com a industrialização do campo, quando a mecanização produtiva supera a renda diferencial improdutiva e concentrada, com seus elevados níveis de produtividade relativa.

O boom produtivo de bens primários foi em busca do mercado externo, principalmente, com o soja e alguns derivados, mas, seguido pelo algodão, milho, carnes, madeiras e derivados, minérios, dentre alguns outros produtos.

Esse é o caminho: promover a diversificação da pauta exportadora e aproveitar as oportunidades decorrentes da nova desconcentração industrial espontânea (globalização) e estimulada (incentivos fiscais) com o fortalecimento da industrialização do estado de Mato Grosso.

Portanto, não há na economia mato-grossense enclave – baixo grau de internalização do emprego e da renda, dependente, exclusivamente, do mercado externo – devido ao crescente nível da renda per capita e do IDH, exatamente, nos principais municípios exportadores, com forte tendência de redução das disparidades econômicas estaduais, diante das ações estruturantes e fomentadoras por parte do poder público.

O dinamismo, é verdade, ora vivido em Mato Grosso, vem do setor primário exportador com a ascensão das atividades familiares em transformação, porém, cresce a inter-relação com o setor secundário industrial, quando ambos darão movimento (dinâmica) e fortalecimento ao setor terciário, o que reduzirá a vulnerabilidade da economia estadual e a ampliará o mercado interno, com a certeza de que o setor primário foi e será determinante primordial na história do crescimento e desenvolvimento econômicos das Nações.

Ernani Lúcio Pinto de Souza é economista do Niepe/Ufmt, mestre em planejamento do desenvolvimento pelo Naea/Anpec e conselheiro e vice-presidente do Corecon-MT.

Comentários no Facebook

Sitevip Internet