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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Pobreza, subdesenvolvimento e violência

Se praticamente todos os países com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) são os mais violentos do mundo (Brasil ocupa a vigésima posição), não há como negar a relação entre pobreza (subdesenvolvimento) e maior intensificação da violência, ou seja, os números demonstram (mesmo que analisados sem maiores detalhamentos) que as pessoas que não contam com oportunidades de desenvolvimento saudável, de acordo com os parâmetros básicos mínimos exigidos para uma vida em sociedade, tendem a ser mais conflitivas e violentas.

Formas primitivas dessa violência, como trabalho infantil, abuso sexual de jovens, desvaloração das mulheres etc., que já foram praticamente erradicadas nos países mais desenvolvidos, ainda são comuns nos territórios em desenvolvimento ou emergentes, como o brasileiro.

A pobreza (aqueles que vivem com menos de dois dólares por dia) e a miséria (quem vive com até um dólar por dia) possuem efeitos devastadores sobre o desenvolvimento humano, afetando não só seu capital econômico, senão também o educativo, o social, o político e o cultural.

Embora o Brasil não apresente índices de bullying (violência escolar) superiores à média mundial, isso não significa que nosso País não seja mais violento que muitos outros, visto que o bullying constitui apenas a ponta do “iceberg” da violência estrutural, econômica, social e intrafamiliar.

A má notícia para países como o Brasil é que não existe perspectiva de solução para o problema da violência a curto prazo. A boa notícia é que nenhuma solução jamais será possível sem a participação efetiva da própria comunidade. Quem tem que sair da miséria é o próprio miserável; não sozinho, evidentemente, posto que necessita de uma ajuda inicial de terceiros, mas qualquer tipo de ajuda só pode ser vista como meio (de sair da situação), nunca como fim.

É indispensável que as comunidades carentes aprendam “as chaves necessárias” (a começar pela educação) para que se transformem em protagonistas da sua própria superação. Enquanto a globalização e os países com economias escravagistas como o Brasil continuarem primando pela acumulação primitiva do capital (Marx), ou seja, pela obtenção de ganhos máximos por meio da exploração do trabalho humano, vamos continuar reproduzindo as mesmas lógicas socioeconômicas em que os ricos se tornam cada vez mais ricos, enquanto os pobres, mesmo que alterem um pouco seu “status”, continuam padecendo de uma brutal miséria econômica, social, política, educativa e cultural. A chave primeira da grande transformação está na educação, especialmente na educação com qualidade, a única que pode alavancar o pobre para o progresso.

Luiz Flávio Gomes – Jurista e cientista criminal. Fundador da Rede de Ensino LFG. Codiretor do Instituto Avante Brasil e do atualidadesdodireito.com.br. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001).

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