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Sábado, 27 de abril de 2024

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Isto É Dinheiro

Revista destaca disputa jurídica entre os grupos empresarais Bertin e Dias

Foto: Reprodução

Grupo comandado por Fernando Bertin (foto) tenta tomar o controle da Mafe Participações

Grupo comandado por Fernando Bertin (foto) tenta tomar o controle da Mafe Participações

As disputas jurídicas entre os grupos empresariais Bertin e Dias, respectivamente comandados por Fernando Bertin e Filadelfo Dias, amplamente divulgados pelo Olhar Jurídico, foram tema de reportagem da revista Isto É Dinheiro, que circula nesta semana. Os repórteres Rafael Freire e Rodrigo Caetano assinam a matéria.

Confira:

Duas famílias em pé de guerra

Os donos do grupo Bertin brigam com os do grupo Dias pelo comando de duas hidrelétricas. A disputa, que envolve R$ 200 milhões e até provocou o sumiço de um avião, virou caso de polícia
Por Rafael FREIRE e Rodrigo CAETANO

Um avião modelo Pilatus PP, avaliado em R$ 5 milhões, desapareceu, em terra. Ele foi visto pela última vez no aeroporto de Cuiabá, há cerca de um mês. Isolada, a notícia seria inusitada o bastante para chamar a atenção. Mas o sumiço da aeronave é apenas a ponta do iceberg de uma disputa envolvendo dois grupos empresariais de peso. O avião pertencia ao grupo Bertin, da família Bertin, que construiu um império no agronegócio a partir de um pequeno frigorífico na cidade de Lins, no interior de São Paulo. Em 2008, a aeronave foi vendida para o empresário Filadelfo Dias, proprietário do grupo Dias, um conglomerado de mais de 20 empresas, de Cuiabá (MT), com atuação nos setores de mineração, saneamento e energia.

O Bertin, no entanto, entrou com um processo para reaver o bem, alegando que Dias não pagou o valor combinado na transação. A Justiça determinou que a aeronave fosse lacrada e permanecesse na capital mato-grossense. O problema é que ela nunca mais foi vista. Seu último plano de voo indica que estaria em Manaus. A briga entre as famílias Bertin e Dias não se resume a essa malsucedida transação. O entrevero também envolve cifras muito maiores do que as de um avião usado. Na verdade, trata-se de uma disputa societária pelo comando da Mafe Participações, empresa que tem como sócios os dois grupos e controla duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), a Buriti Energia, em Mato Grosso, e a Curuá Energia, no Pará.

Resultado de um investimento de R$ 250 milhões, as hidrelétricas hoje faturam R$ 80 milhões por ano, vendendo energia para a distribuidora paraense Celpa. O grupo Dias detém 45% do negócio, enquanto o Bertin responde pelos 55% restantes. A aeronave misteriosamente desaparecida faria parte de uma dívida que o grupo Dias tem com o sócio, oriunda de aportes feitos nas usinas, que totalizariam outros R$ 250 milhões. No começo de abril, os diretores Luiz Carlos Gradella e Maurício Cury de Vecchi, da Curuá e da Buriti, respectivamente, denunciaram, num documento registrado em cartório, diversas irregularidades na administração das empresas.

Eles apontam 23 fraudes que teriam sido cometidas por Dias, na condição de diretor-presidente das usinas. Entre elas figura um empréstimo de R$ 600 mil a agiotas e o pagamento a empresas fornecedoras, que na verdade pertenciam ao próprio Dias e que não prestaram os serviços contratados. Segundo estimativas da família Bertin, os desvios no caixa da empresa podem chegar a R$ 200 milhões. Por causa dessas acusações, o Grupo Bertin, comandado por Fernando Bertin, decidiu alijar Filadelfo Dias do comando das PCHs. Uma assembleia de acionistas foi convocada, no fim de abril, para destituir o empresário do posto. Alguns dias depois, a Justiça de Mato Grosso anulou essa assembleia a pedido de Dias, que alega não ter sido convocado.

A briga foi parar na polícia. No dia 30 de maio, segundo um boletim de ocorrência registrado por Alexandre Barbosa Martins, gerente-geral de operação das hidrelétricas, nove homens armados teriam invadido a sede das empresas, na região de Altamira, no Pará. De acordo com Martins, eles se identificaram como funcionários do Bertin e diziam que iriam assumir a administração e a segurança patrimonial da companhia. Desde então, esses seguranças estariam causando constrangimentos aos funcionários da empresa, diz Martins. Desde a anulação da assembleia, o comando das hidrelétricas se tornou um mistério. O grupo Dias afirma que seu fundador, Filadelfo, ainda é o presidente. Já o Bertin diz que o posto está vago e que Filadelfo não dá mais expediente na Mafe.

“A companhia passa por uma reorganização após a demissão de Filadelfo Dias”, afirma o grupo paulista em nota. Para resolver a questão, as empresas agora vão recorrer a um tribunal de arbitragem. Assumir o controle das usinas é uma questão estratégica para o grupo Bertin. Entre 2010 e 2011, a empresa mergulhou numa corrida no setor elétrico, vencendo leilões para a construção de 42 usinas. A aposta, que exigiria investimentos de R$ 10 bilhões, se mostrou superior à capacidade do Bertin. Para evitar o risco de perder as concessões e pagar pesadas multas pelos sucessivos atrasos no cronograma de construção das termelétricas, o Bertin optou pela venda de ativos e por uma atuação mais modesta no setor. Sobraram apenas seis PCHs e quatro usinas térmicas.
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