A juíza Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica de Cuiabá, converteu a prisão em flagrante do empresário Carlos Alberto Gomes Bezerra para preventiva. Na decisão proferida nesta sexta-feira (20), a magistrada afirmou que o investigado demonstrou desprezo pela vida e crença de impunidade, por conta de seu prestígio social em Mato Grosso.

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Carlinhos Bezerra, como é conhecido, confessou ter atirado diversas vezes e matado a ex, Thays Machado e o atual namorado dela, Willian Cesar Moreno, na tarde do dia 18 de janeiro, na frente do Edifício Solar Monet, no bairro Miguel Sutil, em Cuiabá.

O suspeito, que é filho do deputado federal Carlos Bezerra (MDB), foi preso na noite do mesmo dia, em uma fazenda de Campos Verde (113 Km de Cuiabá). Lá passou audiência de custódia e foi transferido para Cuiabá, onde o crime é investigado na Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Na decisão, a juíza ressaltou que ao prestar depoimento na delegacia, Carlinhos confessou a prática dos crimes de feminicídio e homicídio qualificado, mas não quis informar como se deram os fatos, alegando que estava em “estágio de neuropatia”, o que lhe descompensou emocionalmente.

Na avaliação de Ana Graziela, as informações contidas no processo são requisitos suficientes para a decretação da prisão preventiva do empresário, medida em prol do interesse social. A magistrada ainda pontuou que a liberdade do investigado põe em risco a aplicação da lei penal, tanto que o mesmo somente foi detido, após empreender fuga do local onde praticou o crime evidenciando a nítida intenção de frustrar a aplicação das leis penais.

Além disso, Ana Graziela afirmou que tal prática demonstra alimentar a sensação de impunidade, praticando crimes bárbaros em plena luz do dia, na porta de condomínio residencial, desferindo diversos tiros que, inclusive, poderiam ter atingido outras pessoas.

“As provas até então produzidas nos autos demonstram a tentativa do custodiado de se furtar da aplicação da lei penal e a sua conduta, o desprezo pela vida e uma crença na impunidade, capaz de lhe levar a prática de um feminicídio e um homicídio qualificado em plena tarde de um dia de semana, perto de uma avenida movimentada, em frente a um condomínio residencial, desferindo vários tiros a esmo a partir do próprio veículo registrado em seu nome, tiros estes dos quais seis acertaram as vítimas, sendo nítido em meu sentir que o mesmo contava com a impunidade decorrente de sua posição social”, declarou.

A juíza declarou também que o crime abalou severamente a ordem pública, pela crueldade de se matar duas pessoas. De acordo com a decisão, toda a dinâmica do crime praticado foi amplamente divulgada pela imprensa desde minutos após o cometimento do crime causando grande comoção social registrada na mídia e nas redes sociais.

Por fim, Ana Graziela disse que o crime gerou comentários acerca da impunidade, alimentadas pela posição social ostentada por Carlinhos e pelos laços de parentesco com seu pai, o deputado Carlos Bezerra.

Na avaliação dela, Carlinhos alimentou a certeza da impunidade justamente por sua posição social, o estudo e a experiência de vida. “Em que pese as famílias cuiabanas ao longo de décadas terem consagrado o ‘é gente de quem’ como forma de assegurar-se sobre a companhia de seus filho(a)s, neste caso, tristemente, a procedência familiar do custodiado não bastou para respaldar sua conduta moral. Gente de quem, não é, infelizmente, necessariamente sinônimo de gente de bem”.