Segundo informações do empresário José Eduardo Nascimento da Silva, o suposto organizador do esquema na Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Giovanni Guizzardi, cobrou 40% do valor de um reajuste para acelerar um processo de pagamento do empresário junto a secretaria. A afirmativa foi feita ao Ministério Público Estadual (MPE) após a deflagração da operação Rêmora, que desarticulou um esquema de direcionamento de obras de reformas e construções na Secretaria de Estado de Educação, Esportes e Lazer de Mato Grosso.
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A declaração do empresário incrimina Giovanni Guizzardi e colabora com a denúncia do Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de que ele seria o “mentor” do esquema de fraude de licitações na Seduc. José Eduardo, conhecido como ”Dudu”, é o dono da Ápice Construtora Incorporadora e Imobiliária Eireli, uma das 23 empresas supostamente beneficiadas pelo esquema.
O empresário contou que ao cobrar uma dívida de R$ 300 mil junto a Seduc, o servidor Wander Luiz dos Reis o indicou Giovanni Guizzardi para resolver o problema. Na primeira reunião marcada com Giovanni na sede de sua empresa, a Dínamo Construtora Ltda., José Eduardo contou que não houve uma proposta direta por parte do empresário, mas que ele teria “estranhado” a conversa, uma vez que Giovanni queria saber da saúde financeira de sua empresa.
Em outra reunião marcada no final de 2015, Giovanni contou a José Eduardo que os contratos da Ápice Construtora teriam direito a um “reajuste” e que bastava o empresário entrar com um processo que Giovanni faria o “processo andar”. Em troca do favorecimento, Guizzardi pediu o valor de 40% do reajuste dos pagamentos junto a Seduc.
Em seu depoimento na sede do Gaeco, José Eduardo disse que “estranhou” a proposta de Guizzardi por conta da quantidade de informações que o empresário tinha sobre o contrato da Ápice com a Seduc. Contou ainda que achou estranho o pedido de Giovanni para que ele deixasse o celular na ante sala, antes do início da reunião.
No terceiro encontro, José Eduardo entregou a Guizzardi o protocolo do processo com o pedido de reajuste do valor do contrato, mas o administrador respondeu “alterado” e disse que por conta da demora na entrega da documentação não conseguiria agilizar o pagamento.
Após as tratativas, o empresário relatou ao Gaeco que nunca mais se encontrou com Giovanni Guizzardi e que também não conseguiu receber o valor do reajuste.
Operação Rêmora
Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), a organização criminosa era composta pelo núcleo de agentes públicos, o núcleo de operação e o núcleo de empresários. O primeiro formado pelos servidores Wander Luiz dos Reis, Fábio Frigeri e Moisés Dias da Silva que estariam encarregados de viabilizar as fraudes nas licitações da Seduc mediante recebimento de propina.
Integrava o núcleo de operação Giovanni Bellato Guizzardi, Luiz Fernando da Costa Rondon e Leonardo Guimarães Rodrigues. São eles os mandatários dos servidores públicos e os encarregados de fazer os contatos diretos com os empresários que faziam parte do terceiro núcleo.
Entre os empresários do ramo da construção civil envolvidos no esquema destaca-se o ex-deputado estadual e governador de Mato Grosso, Moisés Feltrin que foi detido durante a Operação Rêmora. Feltrin é empresário do setor de construção e por determinação judicial seria conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos, mas como em sua casa foram encontradas armas de fogo, o mesmo foi detido em flagrante.
No total, o núcleo de empresários possui 23 empresários e pelo o menos 20 obras foram fraudadas durante a ação do cartel. O esquema de propina envolvia pagamentos de percentuais em obras que variavam entre R$ 400 mil e R$ 3 milhões.