Governador entre 1983 e 1986, Júlio Campos passou o último ano de seu mandato refletindo se dava o próximo passo da carreira política como deputado federal ou senador. Em acordo com membros do Partido Democrático Social (PDS), sua sigla, o membro da família Campos escolheu o que parecia o caminho mais fácil, assumindo a cadeira de deputado em 1987. Todo o cenário era investigado pelo o Serviço Nacional de Informações (SNI), criado com o objetivo de supervisionar e coordenar as atividades no Brasil durante a ditadura militar. Suspeita recaia sobre a criação de um cartel com empresas pra financiamento de campanha.
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Atualmente Júlio Campos é filiado ao DEM, partido do governador Mauro Mendes e do presidente da Assembléia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), Eduardo Botelho. O democrata já se lançou como pré-candidato ao Senado na vaga deixada por Selma Arruda, ex-juíza cassada por irregularidades na campanha de 2018.
O então membro do PDS foi acusado de elaborar e executar um esquema "visando angariar recursos financeiros que possibilitem custear sua candidatura ao Senado ou Câmara Federal nas eleições de 1986". Naquele ano o político se elegeu deputado federal.
O esquema, segundo a SNI, consistia em realizar, entre as firmas fornecedoras ou executantes de obras e serviços para o Estado e municípios, uma seleção prévia daquelas que se sairiam vencedoras nas licitações.
"O cunhado do Governador, Jorge Antonio Pires de Miranda, é a pessoa que centraliza e dirige todas as negociações junto as firmas interessadas, exercendo, por conseguinte, total influência sobre os dirigentes de diversas Autarquias e Empresas Públicas Estaduais, fazendo com que o resultado das licitações favoreça empresas particulares que melhor lhes convier", aponta trecho do documento.
Entre as empresas beneficiadas estava a Terramat Terraplanagem Matogrossense Ltda, ligada ao próprio governador. Outra empresa beneficiada era a Eletroeste Comercio de Produtos Elétricos, segundo a SNI, dirigida por Vandir Sguarezi, então cunhado de Júlio Campos. A M.C.A. Propaganda, dirigida pelo então secretário de Comunicação, Mauro Cid Nunes da Cunha, consta na lista.
O Instituto de Previdência do Estado de Mato Grosso (Ipemat) e seu diretor, Carlos Orione, o Gabinete de Planejamento e Coordenação, com o secretário Antonio Eugenio Belluca, e o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Mato Grosso (Dermat), dirigido por Mário Roberto Cândia de Figueiredo, também foram investigados por participação no esquema.
"Com a clara participação do Governo do Estado, nos resultados das licitações, as pessoas envolvidas já se mostram temerosas, devido à maneira acintosa como vem agindo Júlio José de Campos, uma vez que até a imprensa local já começa a especular sobre o assunto".
Os documentos que citam Júlio Campos estão disponíveis no Arquivo Nacional. O órgão, ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública acolhe cerca de 220.000 microfichas que perfazem aproximadamente 9.000.000 de páginas armazenadas de dossiês produzidos e recebidos pelo antigo Serviço Nacional de Informações durante o período de 1964 a 1990.
A acusações presentes nos relatórios de inteligência não foram comprovadas pelo governo militar e muito menos geraram penalizações aos citados.
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Outro lado
Júlio Campos rebateu acusações de que montou um cartel com empresas para se eleger deputado federal. O atual pré-candidato ao Senado relembrou que era governador de Mato Grosso. Segundo ele, a eleição ao parlamento ocorreu sem a necessidade de grandes gastos. Apenas seu capital político foi utilizado.