Condenado a 10 anos no âmbito da Operação Ragnatela, que desarticulou esquema do Comando Vermelho que lavou milhões de reais por meio do tráfico, boates e eventos em Cuiabá, o ex-servidor da Prefeitura da capital Rodrigo de Souza Leal foi autorizado a participar de retiro religioso que aconteceu neste final de semana (25 e 26).
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Defesa de Rodrigo ajuizou habeas corpus na Corte apelando pela concessão para que ele pudesse viajar até o "Encontro com Deus - Legacy", realizado na Chácara Sol e Lua, em Santo Antônio do Leverger.
O pedido precisou ser feito à Corte porque ele está cumprindo medidas cautelares diversas da prisão, dentre elas a proibição de se ausentar da comarca onde mora sem autorização da Justiça. Foi sustentado que Rodrigo vem cumprindo devidamente as cautelares impostas, o que foi corroborado em parecer do Ministério Público.
Examinando o caso, o desembargador não verificou entraves para que Leal fosse ao retiro e concedeu a solicitação do habeas corpus.
Condenado
Em sentença proferida em agosto, o juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, condenou oito membros do Comando Vermelho (CV) a penas que, somadas, alcançam os 71 anos de reclusão por lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Eles foram alvos da Operação Ragnatela, que combateu esquema que lavou milhões provenientes do tráfico de drogas por meio de boates, eventos e empresas de fachada em Cuiabá.
Rodrigo de Souza Leal foi condenado pelos mesmos crimes que Willian: organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Rodrigo foi o idealizador e fundador do grupo G12 Eventos, peça central na organização dos shows, contratação de artistas e articulação dos eventos, que serviam como plataforma para integrar recursos ilícitos ao sistema financeiro formal. Ele também foi o elo entre a facção e agentes públicos, uma vez que já atuou como assessor na Câmara de Cuiabá. Foi punido em 10 anos no regime fechado.
Também ex-assessor na Câmara Municipal de Cuiabá, Elzyo Jardel Xavier Pires foi condenado pelos mesmos crimes que Willian e Rodrigo: organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Assessor parlamentar de um vereador, Elzyo Jardel participava ativamente da organização e montagem física dos eventos, contribuindo com recursos e recebendo parte dos lucros. Pegou 10 anos no regime fechado.
O esquema
As investigações revelaram que os réus utilizavam casas noturnas como Dallas Bar e Strick Pub, além de eventos musicais de funk, intermediados pelo grupo de promotores autodenominado G12 Eventos, para lavar o dinheiro do Comando Vermelho.
Empresas como W.A. da Costa Pereira (Expresso Lavacar), Dom Carmindo Lava Jato e Conveniência, e Clube CT Mangueiras, também foram instrumentalizadas para receber e movimentar grandes somas de dinheiro sem declaração fiscal compatível.
A organização empregava técnicas sofisticadas de lavagem de dinheiro, como o "smurfing" (depósitos fracionados para evitar detecção) e "commingling" (mistura de dinheiro lícito e ilícito).
Além da lavagem, o esquema incluía um braço de corrupção ativa para garantir a realização dos eventos. Agentes públicos, incluindo vereadores e fiscais municipais da Secretaria de Ordem Pública e Defesa Civil (SORP), eram cooptados para facilitar a obtenção de licenças e alvarás, além de relativizar a fiscalização. Valores e vantagens indevidas eram oferecidos e pagos rotineiramente, configurando um "custo fixo" da organização. Planilhas internas da organização registravam esses pagamentos indevidos.