Responsável por “ritmar” o Comando Vermelho em Cuiabá para lavar dinheiro do tráfico, Joseph Ibrahim Khargy Junior foi mantido preso e se tornou réu por ordem do juiz Jean Garcia de Freitas Bezerra, que recebeu denúncia contra ele ofertada no bojo da Operação Tempo Extra, que investiga a atuação de “Herdeiro”, como ele é conhecido, na distribuição, fornecimento e arrecadação de valores ilícitos nos bairros Bela Vista, CPA, Carumbé e Planalto. Ele também é investigado por dar abrigo para lideranças do CV foragidas do Rio de Janeiro.
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Em decisão proferida na última sexta-feira (24), o magistrado acolheu acusação contra Herdeiro pelos crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, promoção, financiamento ou integração de organização criminosa. O juiz apontou que as provas apresentadas, embora indiciárias, são suficientes para iniciar a ação penal.
Na mesma ordem, o magistrado da 7ª Vara Criminal de Cuiabá entendeu que a prisão preventiva de Herdeiro deve ser mantida para garantia da ordem pública e da tramitação do processo.
A decisão rejeitou argumentos como a ausência de contemporaneidade e a presença de predicados pessoais favoráveis. O juiz, contudo, destacou que a manutenção da prisão preventiva como imprescindível para garantir a ordem pública devido à gravidade do crime de integrar uma organização criminosa, citando evidências como vídeos e áudios que ligam o réu à facção.
Na ocasião, as investigações interceptaram um vídeo gravado por Herdeiro, em que ele declara ter "ritmado o Comando Vermelho em Cuiabá" e um áudio em que confirma a referência de seu nome de usuário ("rc57") ao "Bonde do 157-Comando Vermelho". Além disso, os autos indicam que o réu utilizaria contas de familiares para movimentar recursos da facção e teria adquirido um veículo Toyota Corolla com R$ 40.000,00 de origem supostamente ilícita.
De acordo com o relatório, além de sua atuação em Mato Grosso, Joseph também desempenhava papel de suporte logístico na Rocinha, no Rio de Janeiro, fornecendo abrigo e proteção para criminosos foragidos — situação confirmada em conversas interceptadas pela polícia.
As investigações ainda constataram que o criminoso utilizava as contas bancárias da mãe e do irmão para movimentar altos valores, evitando levantar suspeitas. A polícia apontou que ambos tinham conhecimento das atividades ilícitas de Joseph, o que evidencia a complexidade e a ramificação da estrutura criminosa. Um documento ao qual a reportagem teve acesso revela que Joseph mantém relação direta com lideranças nacionais do Comando Vermelho (CV), ostentando vínculos com criminosos de alto escalão identificados como “Rogério 157” e “Johnny Bravo”.
As investigações indicam que Joseph e um comparsa fugiram para o Rio de Janeiro após a deflagração da Operação Apito Final. Lá, ele passou a exercer função de liderança operacional no núcleo da facção instalado na comunidade da Rocinha, uma das principais bases do CV.
Segundo a polícia, “Herdeiro” não era um membro periférico ou eventual, mas sim um articulador ativo da rede de tráfico de drogas e armas entre Mato Grosso e o Rio de Janeiro. Em um dos diálogos interceptados, Joseph chega a disponibilizar sua própria casa, na Rocinha, para abrigar um homem ainda não identificado.
Operação Tempo Extra
Na manhã do dia 10 de setembro, Joseph foi preso durante a Operação Tempo Extra, deflagrada pela Draco com foco no desmantelamento de um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico em Cuiabá.
Segundo as apurações, o grupo criminoso, anteriormente liderado por Paulo Witter, conhecido como “W.T”, movimentou cerca de R$ 65 milhões provenientes de atividades ilícitas. A ofensiva seria um desdobramento da Apito Final, que desarticulou o núcleo de W.T.