Olhar Jurídico

Sábado, 19 de julho de 2025

Notícias | Criminal

'AGROGOLPISMO'

Os Bedin, ex-Aprosoja, prefeito e maior destruidor do Pantanal: os ruralistas de MT que bancaram os atos golpistas

Foto: Alan Santos/PR

“Pai da soja”: Argino Bedin (esq.) posa ao lado de Bolsonaro em Sorriso (MT).

“Pai da soja”: Argino Bedin (esq.) posa ao lado de Bolsonaro em Sorriso (MT).

O relatório Agrogolpistas, elaborado pelo observatório De Olho nos Ruralistas e publicado no último dia 25, expõe a atuação de duas figuras centrais no financiamento dos atos antidemocráticos no Brasil, cujo eixo central seria o Estado de Mato Grosso: a família Bedin e o ex-presidente da Aprosoja Antônio Galvan. Considerado o "maior desmatador do Pantanal", acusado de promover o desmate químico superior aos 80 mil hectares no bioma, Claudecy Oliveira Lemes teve as contas bloqueadas pelo Supremo Tribunal Federal em 2022, no contexto antidemocrático. Dos 142 nomes identificados no, 74 vieram de Mato Grosso, sendo 57 do Nortão e 17 das demais regiões, sendo um deles o prefeito de Campo Novo do Parecis.


Leia mais
Juiz aplica multa de R$ 200 mil a prefeita e vice por propaganda em show de Ana Castela, mas afasta cassação
 

Os Bedin, pioneiros em Sorriso (MT), são citados como maioria dos ruralistas de Mato Grosso envolvidos – dez membros da família são acusados de financiar os atos com caminhões e dinheiro.

Argino Bedin, patriarca do clã, foi ovacionado em seu município após se recusar a depor na CPI do 8 de Janeiro sobre o envio de 15 caminhões para Brasília. Filha dele, Roberta Bedin movimentou R$ 19,6 milhões em 2021–2022, segundo o Coaf, com indícios de uso em ações políticas. Parentes doaram R$ 160 mil a Bolsonaro em 2022 e tiveram contas bloqueadas por Alexandre de Moraes. 

Já Antônio Galvan, líder da Aprosoja entre 2021 e 2024, foi pivô da articulação entre agro e militares. Acompanhou o general Braga Netto em feiras no estado antes do plano Punhal Verde e Amarelo — que previa o assassinato do presidente Lula (PT) e do ministro Alexandre Moraes, do STF. Em 2021, Galvan organizou protestos com tratores em Brasília, ameaçando o STF, e em 2024 chegou à PF de Sinop em um cortejo de máquinas agrícolas. Foi indiciado por incitação ao crime, mas segue impune – assim como o clã Bedin.

O relatório ainda liga Galvan a esquemas de financiamento obscuro. Durante a turnê de Braga Netto em Mato Grosso, um empresário não identificado entregou R$ 100 mil em uma sacola de vinho para custear o golpe, segundo o depoimento de Mauro Cid. Suspeita-se que o doador seja um fazendeiro da rede de Galvan. 

Enquanto Bedin virou herói local, Galvan mantém influência na Aprosoja, que segue como braço político do agro no Congresso. Para os pesquisadores, a falta de punição a esses nomes mostra que o agronegócio continua sendo um risco à democracia.

Mas não para por aí. Além dos fazendeiros do Nortão de MT, outros ruralistas também são apontados como financiadores da articulação golpista, mobilizando forças contra o resultado das eleições de 2022.

Em Campo Novo do Parecis, por exemplo, o fazendeiro Edilson Antônio Piaia, filiado ao PL, enviou três caminhões para os protestos em Brasília. Suas contas foram bloqueadas por ordem do ministro Alexandre de Moraes, sob suspeita de financiar a logística dos bloqueios e acampamentos golpistas. Ele tem patrimônio de R$ 49,2 milhões, incluindo sociedade na usina de beneficiamento de algodão Chapadão dos Parecis Ltda e na distribuidora Safra Oeste Máquinas e Insumos. Nenhuma consequência judicial o impediu de ascender politicamente após o episódio: ele foi eleito prefeito em 2024.
 
Já em Campinápolis, o dossiê aponta que Maurides Parreira Pimenta, o “Didi Pimenta”, foi indiciado na Comissão Parlamentar de Inquérito dos Atos Antidemocráticos da Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal por bancar o envio de ônibus com indígenas Xavante à capital federal. Entre os passageiros estava José Acácio Serere Xavante, que se autointitula cacique Serere e ganhou projeção ao se tornar um dos líderes do acampamento golpista em Brasília.

Didi Pimenta teve seu sigilo quebrado, e a varredura revelou que ele repassou R$ 17 mil a Serere, indígena que foi filmado ao lado de Bolsonaro e do general Braga Netto no Palácio do Planalto. Na ocasião, disse que morreria por Bolsonaro, e que “Lula não vai subir a rampa”. À CPI, Serere negou conhecer Didi.

O relatório aponta que a decretação de sua prisão pelo ministro Alexandre de Moraes, em 12 de dezembro de 2022, desencadeou uma tentativa de invasão da sede da Polícia Federal em Brasília. As cenas de vandalismo e ônibus incendiados foram um prenúncio dos ataques de 8 de janeiro.

O Maior Desmatador do Pantanal também não foi esquecido: Claudecy Oliveira Lemes, dono de 11 fazendas na região pantaneira, mais de 60 mil cabeças de gado e diversas empresas, como a Comando Diesel Transporte e Logística, companhia que teve as contas bloqueadas pelo STF em novembro de 2022.

Condenado em diversas ações a reparar os danos que causara ao Pantanal, Claudecy protagonizou o maior caso de desmatamento químico da história do estado, em 2020, quando, com auxílio de um engenheiro agrônomo e um piloto de avião, aplicou uma mistura de 25 agrotóxicos por via aérea sobre 81 mil hectares do Pantanal mato-grossense — uma área equivalente ao município de Campinas (SP), operação que custou R$ 25 milhões. Somadas, as multas ambientais que ostenta chegam a R$ 2,9 bilhões.

Fornecedor de gado para frigoríficos da JBS em Barra do Garças e Pedra Preta, em Mato Grosso, Claudecy segue impune e liberto, apesar dos pedidos de prisão feitos pelo Ministério Público.

O relatório, coordenado pelo jornalista Alceu Luís Castilho aponta que o núcleo “agrogolpista” segue impune, apesar de alguns indiciados, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) julga o plano Punhal Verde e Amarelo: trama orquestrada por membros da Forças Armadas e do alto escalão do governo, inclusive possivelmente Jair.

O objetivo seria decretar um regime de exceção e assassinar o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No caso de Moraes, foi montada uma operação para sequestrá-lo no dia 15 de dezembro de 2022, mas a ação foi abortada horas depois diante da incerteza quanto à adesão completa da cúpula do Exército. Além disso, o caso evidenciou as tentativas, como a de golpe de estado para depor Lula.

“O relatório da PF mostrou que um núcleo de militares próximos a Bolsonaro articulou o apoio logístico aos golpistas acampados em frente de quartéis das Forças Armadas: aqueles que clamavam por intervenção militar. E que, no intervalo entre um piquete e outro, empanturravam-se com picanha de primeira doada por fazendeiros. As digitais do agronegócio na engrenagem do golpe podiam ser observadas desde 2022. De Olho nos Ruralistas revelou a ponta do iceberg em um dossiê intitulado “As Origens Agrárias do Terror” — publicado apenas quatro meses após os atos terroristas de 8 de janeiro de 2023. Na época, o levantamento identificou as conexões agrárias de 44 empresários e políticos que atuaram na organização do quebra-quebra na Praça dos Três Poderes, em Brasília, e nos bloqueios a rodovias em cinco estados”, diz o relatório.

“Mas o que aconteceu com o núcleo ruralista do golpe? Por que o setor, que despontava como principal financiador da ruptura democrática, sequer foi citado nos inquéritos realizados pelo STF em maio deste ano? Quem é esse 'pessoal do agro' sem rosto, sem nome e impune?”, indagou.
Entre em nossa comunidade do WhatsApp e receba notícias em tempo real, clique aqui

Assine nossa conta no YouTube, clique aqui

Comentários no Facebook

Sitevip Internet