Relatório do observatório De Olho nos Ruralistas, publicado na última quarta-feira (25), revelou que Mato Grosso foi o estado com maior participação de empresários do agronegócio nos atos golpistas de 2022 e 2023. Dos 142 nomes identificados, 74 (52%) têm atuação no estado, especialmente na região do Nortão, onde Sorriso — maior polo produtor de soja do mundo — lidera com 34 investigados. A família Bedin, fundadora do município, é a mais citada ao lado do ex-presidente da Associação de Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), Antônio Galvan. O dossiê, coordenado pelo jornalista Alceu Luís Castilho, exige punição ao núcleo classificado como “Agrogolpistas”.
Leia mais
Juiz aplica multa de R$ 200 mil a prefeita e vice por propaganda em show de Ana Castela, mas afasta cassação
O estudo aponta que 91 empresários forneceram caminhões para bloqueios de rodovias e para o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília. Desses, 146 veículos tinham placas de Mato Grosso, a maioria vinculada a grupos como Bedin e Lermen, responsáveis por 28 caminhões — um quarto da frota golpista do estado. Investigados também têm laços com multinacionais como Syngenta, John Deere e bancos como Santander e BTG Pactual.
A articulação entre agronegócio e golpismo incluiu dirigentes da Aprosoja, como Antônio Galvan, ex-presidente da entidade e candidato ao Senado em 2022. Galvan foi indiciado por incitação ao crime após organizar protestos com tratores em Brasília. O relatório também destaca o financiamento de campanhas de políticos bolsonaristas, como o senador Flávio Bolsonaro, que usou jatinho de um empresário investigado.
Em 2023, Bedin teve contas das empresas bloqueadas por Moraes, e foi obrigado a comparecer à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, sob a suspeita de ter financiado os atos antidemocráticos.
Além da logística, o documento mostra conexões com o plano Punhal Verde e Amarelo, que pretendia assassinar o presidente Lula (PT) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre Moraes, bem como aplicar um golpe de Estado no país. O general Braga Netto, vice na chapa de Jair Bolsonaro, fez tour por feiras agropecuárias no estado ao lado de Galvan e Nabhan Garcia, ex-secretário do Ministério da Agricultura e fundador da milícia rural União Democrática Ruralista (UDR).
Apesar das provas apresentadas no relatório, até o momento, nenhum grande nome do agro foi punido – e esta é justamente a cobrança do dossiê: punição aos ruralistas financiadores. Enquanto líderes urbanos do 8 de Janeiro foram presos, ruralistas seguem influentes — alguns eleitos, como o fazendeiro Edilson Piaia, prefeito de Campo Novo do Parecis. Para os autores do relatório, a omissão do Judiciário e da mídia sobre esse eixo do golpismo ameaça a democracia.