A juíza Edna Ederli Coutinho, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), manteve a prisão preventiva de Wender Ferreira de Lara, acusado de atuar como “disciplina” do Comando Vermelho no Bairro Dom Aquino, Cuiabá, com a responsabilidade de extorquir comerciantes da região exigindo que pagassem taxas em dinheiro à facção. Decisão é desta quarta-feira (25).
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Ele foi detido no âmbito da Operação Acqua Ilícita, deflagrada em março contra esquema de extorsão, lavagem de dinheiro e organização criminosa que vinha prejudicando comerciantes de água mineral em Cuiabá, Várzea Grande, Nobres e Sinop. Os suspeitos aumentavam os preços para os consumidores com o objetivo de enriquecer.
Ao avaliar o pedido de revogação preventiva de Wender, a juíza anotou que não existem elementos que demonstrem a superação das razões iniciais que levaram à sua detenção.
As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) indicam que Wender é o disciplina do Dom Aquino, autor das coações a comerciantes para adquirirem mercadorias (água mineral e gás) da facção ou pagarem R$ 1,00 por produto vendido.
Em depoimento, um policial que participou das investigações confirmou que Wender e o comparsa Elckllys Fernandes Santana faziam ameaças aos comerciantes do bairro. Ambos recebiam os “caches” dos lojistas e promoviam ações para distribuição de cestas básicas na comunidade.
Embora não tenham identificado distribuidoras da facção no Dom Aquino, sabem que o crime de extorsão é praticado ali, e há conhecimento de um estabelecimento de grande porte no bairro Pedra 90 que estaria funcionando como centro de distribuição do Comando, com previsão de uma nova distribuidora no Bairro São Mateus.
Para manter a segregação de Wender, a juíza destacou o perigo que sua liberdade causaria à sociedade, visto que ele integra o Comando Vermelho, que possui estrutura sofisticada para a prática criminosa e capacidade de perpetuação de um projeto delitivo contínuo e reiterado.
A liberdade dos investigados permitiria a continuidade das práticas criminosas e reforçaria a intimidação de vítimas e testemunhas. Controlam a distribuição de água mineral na Baixada Cuiabana por meio de ameaças e coação, impondo preços, determinando fornecedores e exigindo pagamentos compulsórios de taxas ilegais, utilizando ameaças explícitas registradas em áudios, mensagens de WhatsApp e visitas diretas de integrantes armados.
Wender Ferreira De Lara integra o núcleo extorsionário, atuando diretamente na coação e cobrança. A gravidade do delito, então, é acentuada pelo medo das vítimas em formalizar denúncias, revelando um estado de terror imposto pelo grupo, o que já levou muitos comerciantes a fecharem suas empresas. Ademais, vários suspeitos possuem antecedentes criminais e são amplamente reconhecidos como integrantes do Comando Vermelho, sendo a manutenção da prisão preventiva indispensável para assegurar a higidez e o andamento da ação sem interferências.
Deflagrada no dia 20 de março, a Operação Acqua Ilícita cumpriu 55 mandados de busca, 12 de prisão e bloqueou 42 contas bancárias. O objetivo era desarticular uma organização ligada à facção Comando Vermelho, que atuava no controle e extorsão no comércio de água mineral na capital mato-grossense. Dois suspeitos morreram durante a operação, e o Gaeco ainda apura a participação de outros envolvidos no esquema.
Os mortos foram identificados como Fábio Junior Batista Pires, conhecido como "Farrame", considerado pessoa de confiança de 'Sandro Louco', líder do Comando Vermelho em Mato Grosso, e Gilmar Machado da Costa, de 44 anos.
Ambos eram apontados como integrantes da facção criminosa e foram baleados durante as diligências do Gaeco em distribuidoras de água nos bairros Nova Conquista e Jardim União, em Cuiabá. Eles chegaram a ser socorridos e encaminhados ao Hospital Municipal de Cuiabá (HMC), mas não resistiram aos ferimentos.
Entre os principais alvos da operação, está Joel Junior Morais de Oliveira, conhecido como “Joel da Figueirinha”, proprietário de uma distribuidora de bebidas em Várzea Grande. Outro nome da lista é Ulisses Batista da Silva, chamado de “Mineiro, Veio, Coroa ou Negão”, que atuava como pastor em uma igreja no bairro Pedra 90 e é suspeito de ser um dos líderes da facção na região. Ulisses, segundo a Polícia Civil, fugiu para o Rio de Janeiro.
Outro preso é Vinicius Targino da Silva, que havia desaparecido em dezembro de 2024, mas foi localizado seis dias depois, vivo. Já Gerson da Conceição de Arruda Filho, também detido na operação, era proprietário de uma oficina de motocicletas no bairro Jardim Industriário, cujo registro empresarial consta como “inapto” desde outubro de 2023 por omissão de declarações fiscais.