A decisão judicial que autorizou a Operação Ilusion, desta quarta-feira (20), revelou que o casal de empresários Márcio Junior Alves do Nascimento e Eliza Severino da Silva atuaram de forma premeditada na captação de recursos por meio da empresa Imagem Serviços de Eventos Ltda., mesmo diante do iminente encerramento das atividades. O casal está preso preventivamente.
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Márcio e Eliza tiveram a prisão preventiva decretada na Operação, deflagrada após a ordem de Kobaiashi. Ambos se entregaram nesta quarta. Ele se apresentou na sede da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon) e está detido em Cuiabá, enquanto ela em uma unidade policial do Paraná. A suspeita deve responder aos mesmos crimes do marido e deve ser transferida para Mato Grosso.
A empresa encerrou suas operações em 31 de janeiro de 2025, véspera de um baile de formatura de medicina e, após isso, deixou mais de mil vítimas, entre formandos e familiares, sem a realização de festas e sem a entrega de materiais fotográficos contratados, cujos valores pagos, especialmente em turmas de Medicina, ultrapassam R$ 7 milhões.
Depoimentos de ex-funcionários e membros das comissões de formatura indicam que, nas semanas que antecederam o fechamento, os investigados intensificaram ações para arrecadação de valores, como cobranças agressivas de inadimplentes, campanhas de antecipação de parcelas e vendas de álbuns fotográficos, mesmo sem perspectiva de cumprimento contratual.
A investigação revelou que Márcio e Eliza implementaram estratégias para maximizar os ganhos da Imagem Eventos, mesmo diante do fechamento iminente. A responsável do setor financeiro relatou que, por volta de 7 de janeiro de 2025, o casal convocou a equipe para uma reunião e apresentou levantamento financeiro para definir metas de arrecadação, as quais foram consideradas agressivas.
Márcio estabeleceu meta individual, enquanto outros colaboradores ficaram incumbidos de levantar R$ 120 mil junto aos formandos inadimplentes. Para isso, montaram uma equipe de cobrança que deveria contatar os alunos devedores, oferecendo meios de quitar mensalidades em atrasos sem juros e multas. Márcio afirmou aos inadimplentes que, caso não pagassem os valores, seriam acionados na Justiça.
Inicialmente, a meta de arrecadação deveria ser atingida até 20 de janeiro de 2025, mas o prazo foi prorrogado até 30 de janeiro de 2025, ou seja, um dia antes do encerramento oficial das atividades da empresa pelo pedido de recuperação judicial, que, por sua vez, foi indeferida por inconsistência e falta de base real do pedido, ausência de interesse processual e falta de pressupostos para a constituição e desenvolvimento do processo.
Outra funcionária relatou que, em 15 de janeiro de 2025, o casal convocou outra reunião anunciando uma campanha promocional para antecipação das parcelas de fevereiro e março para os formandos adimplentes, oferecendo descontos entre 10% e 15%. Durante essa reunião, Eliza demonstrou preocupação quanto à possibilidade de os clientes desconfiarem da promoção, ao que Márcio respondeu que não importava a reação dos formandos e que a equipe deveria seguir com a campanha de antecipação.
A promoção teve como prazo final o dia 30 de janeiro, um dia antes do encerramento oficial das atividades da empresa, sendo que muitos formandos aderiram à oferta e anteciparam pagamentos, atraídos pelos descontos concedidos. Porém, um dia depois, Márcio e Eliza “sumiram”, pediram recuperação judicial e informaram a todos os formandos que não realizaria os bailes.
Além das estratégias de arrecadação, a Imagem intensificou a venda antecipada de álbuns fotográficos, especialmente voltada para turmas de Medicina, a partir de setembro de 2024. Os serviços fotográficos eram realizados e comercializados exclusivamente pela Imagem, com exceção da impressão dos álbuns, cujo serviço custava R$ 20 mil.
Nos eventos conhecidos como “family day”, a empresa promovia a venda antecipada desse material, muitas vezes diretamente no local do evento. Nas semanas que antecederam o fechamento da empresa, os investigados reforçaram essa estratégia para maximizar a arrecadação de valores junto aos formandos. Os arquivos fotográficos dos eventos permaneciam sob posse exclusiva da Imagem, motivo pelo qual muitos formandos e familiares que adquiriram os materiais ainda não os receberam.
A investigação da Delegacia aponta ainda que os acusados ocultaram a real situação financeira da empresa, transferiram arquivos com registros das cerimônias a terceiros e tentaram obter recuperação judicial, cujo pedido foi indeferido por inconsistências formais. A conduta foi enquadrada como estelionato, associação criminosa e crimes contra as relações de consumo.
Para autorizar a operação, a juíza considerou que as provas colhidas nas investigações demonstraram que o casal, aliado ao irmão e mãe de Márcio, Marcos Vinicius Alves do Nascimento e Antonia Alzira Alves do Nascimento, agiu de forma premeditada e com dolo: eles sabiam que a situação das empresas era de crise e, mesmo assim, seguiram agindo de má-fé com a clientela.
Ex-funcionários relataram que os prejuízos financeiros das vítimas podem ultrapassar R$ 7 milhões já que as empresas cobravam altos valores para os bailes, sobretudo dos cursos de Medicina. Colaboradores do setor administrativo e gestores corroboraram tais informações, destacando que a Imagem e Eventos focava na captação de contratos com turmas de Medicina, devido aos altos valores envolvidos.
Os depoimentos de membros das comissões de formatura de turmas mais prejudicadas, como a Turma 12 de Medicina da UNIVAG e a Turma 34 de Medicina da UNIC, corroboram os fatos relatados pelos funcionários referente às exigências de pagamentos adicionais das turmas contratantes, mesmo diante da iminente paralisação das atividades da empresa e sem qualquer perspectiva de cumprimento dos contratos.
Além dos formandos e de seus familiares, os trabalhadores da empresa também foram surpreendidos pelo encerramento abrupto das atividades. Em depoimento, a responsável pelo setor financeiro declarou que, embora a empresa estivesse formalmente registrada em nome de Antônia, esta não exercia qualquer papel na administração do negócio, sendo a gestão conduzida por Márcio e Eliza.
Também confirmaram que a empresa Graduar Decoração e Fotografia Ltda, registrada em nome de Eliza, operava no mesmo endereço da Imagem Eventos, atuando ambas de forma unificada.