O Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) apresentou, nesta quarta-feira (21), o planejamento estratégico da Corte para as eleições gerais de 2026. Em coletiva à imprensa, a presidente do TRE, desembargadora Serly Marcondes Alves, detalhou a estratégia adotada pela gestão para o biênio 2025/27. Sobre o pleito do próximo ano, a presidente afirmou que o TRE-MT está pronto para aplicar as resoluções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o mesmo orçamento das eleições passadas, em R$ 21 milhões.
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Durante a apresentação, a gestão detalhou as frentes prioritárias de ação, que serão: Gestão eficiente dos recursos públicos; Planejamento de contratações e licitações; Sustentabilidade; e Inovação e inclusão digital. Para executá-los, a Justiça Eleitoral de Mato Grosso conta com 281 servidores e servidoras efetivos e 212 requisitados e requisitadas, que passam por constantes capacitações, visando ao fortalecimento da atuação de magistrados, magistradas e chefias de cartório.
Referente ao crime organizado estar cada vez mais presente no universo político em Mato Grosso, com candidatos e parlamentares sob influência e financiamento das facções criminosas, Serly destacou que um dos eixos será o combate à esses grupos criminosos por meio de ações de parceria com o Ministério Público e as forças de segurança. O objetivo será organizar atuação conjunta para identificar e sustar o financiamento ilícito de campanhas.
Vale lembrar que, na semana passada, a Justiça Eleitoral do estado cassou o mandato de vereador de de Rondonópolis Ary Campos (PT) sob suspeita de ter utilizado dinheiro da organização criminosa Comando Vermelho para financiar sua campanha nas eleições municipais de 2024, bem como o declarou inelegível por 8 anos.
Segundo o Ministério Público Eleitoral (MPE), foram encontrados dois aparelhos celulares desbloqueados, que continham conversas dos detentos com pessoas de fora do presídio para que elas votassem para o vereador nas eleições municipais de 2024.
A partir disso, foi instaurado um Inquérito Policial para apurar os fatos, sendo formulado e autorizado pela Justiça o pedido de quebra de sigilo telefônico para acessar os dados armazenados nos celulares apreendidos.
De acordo com o laudo de extração dos dados contidos nos aparelhos celulares, foi constatado que existia uma imposição dos "irmãos" --termo usado por faccionados --, para que cada indivíduo conseguir, pelo menos, 4 eleitores, e registrasse a fotografia do título de eleitor, nome completo, endereço onde vota, número do título, sessão que vota, contato e endereço. “Se apurou que a escolha do nome do candidato Ary Campos foi uma decisão coletiva dos membros da facção criminosa de inseri-lo na política, a fim de conciliar os interesses da organização. Relata que as reuniões de campanha do candidato ARY CAMPOS foram financiadas com dinheiro de lojistas que pagam a "taxa de segurança" à organização criminosa”, diz trecho da decisão.
Além disso, o
Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) atualizou, neste ano, a informação sobre os candidatos monitorados por suspeita de atuarem com as facções. Na ocasião, o promotor de Justiça Adriano Roberto Alves afirmou que o órgão está investigando 22 vereadores no estado por suspeita de ligação com facções criminosas.
Para o Gaeco, o CV viu na política a oportunidade de lavar dinheiro sem ser detectado pelos órgãos policiais, investindo na base eleitoral de vereadores. Essa estratégia preocupa o estado, pois esses candidatos, caso eleitos, podem se tornar prefeitos, deputados e até senadores.
“Qualquer denúncia que a gente receber, a gente vai trabalhar com o Ministério Público que é o autor da ação e a gente vai tomar todas as atitudes necessárias para proibir ou coibir esse tipo de abuso ou de distorção. O nosso vice-presidente corredor, desembargador Marcos Machado, ele tem uma larga experiência nisso, ele é o cara que mais trabalha sobre essa questão no estado de Mato Grosso, dentro do Tribunal de Justiça. Ele inclusive cria varas para combate ao crime organizado, então ele tem uma larga experiência”, ressaltou Serly.
Citou, ainda, o incentivo à participação feminina na política, com ações afirmativas nesse sentido, e programas de formação e visibilidade de lideranças femininas. Também incluem, entre os eixos de atuação, a gestão eleitoral com segurança e liberdade e o fortalecimento de parcerias institucionais.
Ampliar para 100% do cadastramento da biometria em Mato Grosso também é prioridade para a gestão. Atualmente, do total de 2,6 milhões de eleitores e eleitoras de Mato Grosso, pouco mais de 2,2 milhões possuem o cadastro biométrico, ou seja, uma cobertura de 86,7%. O estado possui 57 Zonas Eleitorais, distribuídas em 142 municípios, com 1.509 locais de votação e 8.819 seções eleitorais.
Serly ainda demonstrou preocupação com o avanço das deepfakes e informações falsas veiculadas por meio de inteligência artificial, mas garantiu que a Corte estará preparada para o enfrentamento que for necessário.
“Então, da mesma maneira. Primeiro, informação, a gente vai fazer uma campanha forte de informação para o eleitor, para ele aprender sobre o que é verdade e o que não é verdade, uma campanha de esclarecimento, desenvolver produtos que esclareçam ao eleitorado o que é deep fake, o que não é, quais são os tipos de atenção que o eleitor tem que ter. Nós vamos ter esses produtos para informar a população.”, completou.
O juiz auxiliar da Presidência, Luís Aparecido Bortolussi Júnior, também participou da entrevista coletiva, e reforçou o comprometimento da gestão com a realização de eleições seguras e transparentes. Da mesma forma, o diretor-geral, Mauro Sérgio Rodrigues Diogo, salientou o reconhecimento e a confiança da presidente com relação ao trabalho desempenhado pelos servidores e servidoras do TRE-MT. Secretários e assessores do Tribunal, que compõem a nova gestão, também participaram da entrevista coletiva.