O juiz Fabio Petengill decretou a prisão preventiva de Emanuelly Domingos de Oliveira, jovem trans socialmente identificado como Ricardo Oliver, que confessou ter assassinado a sua ex-namorada, Quitéria dos Santos Costa, de 29 anos, na tarde desta terça-feira (13), na sorveteria em que trabalhava em Lucas do Rio Verde. Câmeras de segurança do estabelecimento registraram toda a ação de Ricardo, que desferiu o primeiro golpe de faca contra Quitéria enquanto ela estava de costas.
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Ricardo passou por audiência de custódia nesta quinta-feira (15) e, considerando a gravidade do crime, a premeditação e o risco de fuga, o magistrado converteu sua prisão em flagrante em preventiva. A tentativa de Ricardo em culpabilizar a própria vítima também não passou batido na decisão.
Na ordem, Petengill verificou que a materialidade foi demonstrada nos autos por meio dos Auto de Prisão em Flagrante Delito, do Boletim de Ocorrência, do Termo de Exibição e Apreensão, e, sobretudo do vídeo que retrata o momento do crime. Nas imagens é possível ver que Ricardo surpreende Quitéria pelas costas e já passa a esfaqueá-la violentamente.
Em seu depoimento, Ricardo confessou o crime e relatou que viveu um relacionamento amoroso com a vítima por cerca de dois anos, tendo separado ao final de 2024, e que, após o término, tiveram vários desentendimentos – sendo essas as razões que levaram Ricardo a matar a vítima, entendo que só assim “teria paz”.
Petengill ainda repreendeu a tentativa da defesa em pleitear a liberdade para Ricardo mediante cautelares, uma vez que o algoz, ao depor, sequer demonstrou arrependimento pelo assassinato cruel, tentando a todo tempo justificar seu comportamento “explosivo” culpabilizando a própria vítima, alegando aduzindo que o relacionamento era abusivo por parte da vítima, a qual tinha muito ciúmes e a agredia fisicamente e indicando que o motivo do crime teria sido as supostas ameaças de que a vítima iria infernizar sua vida agora que estava morando em Lucas.
No entanto, apesar das ilações, Ricardo não comprovou qualquer comportamento concreto de Quitéria no sentido de que ela teria o ameaçado de morte, seja diretamente ou por terceiros, como alegou.
A periculosidade de Ricardo também foi ressaltada pelo juiz. Embora seja primário e portador de bons antecedentes, ele premeditou o crime. Além disso, Ricardo trocou de roupa após o crime e jogou as vestimentas usadas na execução em região de mata. Em seguida, foi até a casa da sua mãe e conversou com ela como se nada tivesse acontecido, “circunstâncias que demonstram não apenas a clara tentativa da autuada de se furtar à responsabilização criminal, mas também sua atitude inescrupulosa”, anotou o juiz, destacando a necessidade de manter Ricardo preso preventivamente.
“Diante do exposto, vislumbrando os requisitos autorizadores da prisão preventiva, converto a prisão em flagrante da autuada EMANUELLY VITORIA DOMINGOS DE OLIVEIRA, socialmente identificada como Ricardo Oliver, qualificada nos autos, em prisão preventiva”, decretou.
A mãe de Ricardo acredita que a ele tirou a vida da ex-companheira em um ato de desespero – o que foi desconsiderado veementemente pelo juiz. A declaração foi feita em entrevista ao programa Cadeia Neles (TV Vila Real, canal 10.1), após a jovem ser presa ao lado da atual companheira, de 39 anos, suspeita de ajudá-la a se esconder após o crime.
Segundo a mãe, que preferiu não se identificar, Quitéria havia se mudado para o Pará em novembro do ano passado com o objetivo de abrir um negócio próprio. Ricardo, na época, teria apoiado a decisão e investido cerca de R$ 20 mil para que a ex realizasse o sonho de montar uma loja. Pouco depois, no entanto, o relacionamento terminou, e Quitéria deixou os três filhos, de oito, dez e 11 anos, sob a responsabilidade da ex-sogra.
“Minha filha pediu que eu cuidasse das crianças e vendeu a casa para vir morar comigo. Ela ainda fez um empréstimo de R$ 3 mil para não deixar faltar nada”, contou a mãe.
Ainda segundo ela, Quitéria se recusava a retornar a Lucas do Rio Verde para buscar os filhos, exigindo que fossem levados até São Miguel, no Pará — pedido que foi negado. O que ninguém esperava era que, cerca de 10 dias antes do crime, Quitéria teria voltado para Lucas do Rio Verde.
“Na minha cabeça, foi o desespero que fez ela fazer isso. Minha filha começou a receber ameaças, recados de que a Quitéria estava voltando para acabar com a vida dela”, relatou a mãe.
Ela também revelou que, após a separação, chegou a saber de um episódio em que Quitéria teria esfaqueado Ricardo. “Não sei o que aconteceu naquele dia, mas espero que minha filha tenha a chance de contar a versão dela. Eu só soube que a Quitéria estava aqui de novo quando a polícia bateu na minha porta procurando pela minha filha”, concluiu.