A disputa judicial por 800 hectares de terras produtivas em Novo São Joaquim, avaliados em mais de R$ 40 milhões, teria sido a motivação para o assassinato do advogado Renato Gomes Nery, executado a tiros em julho do ano passado, em Cuiabá. Julinere Goulart Bastos e Cesar Jorge Sechi, casal de empresários moradores de Primavera do Leste, foram presos nesta sexta-feira (9) acusados de serem os mandantes da execução.
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O casal acusava Nery de falsificar assinaturas para “tomar” a Fazenda Atlântida, obtida pela família Sechi junto à Ary Ferreira de Souza em julho de 1998. Segundo os Sechi, Nery enganou o poder judiciário para se empossar das terras.
“O cultivo da área vinha ocorrendo normalmente até que, por força da reintegração de posse fraudulentamente conseguida pelos réus, foram os herdeiros do comodante Dorvalino Sechi impedidos de explorar a área”, diz trecho da ação que o espólio dos Sechi moveu contra Nery em 2022, visando a declaração de nulidade dos negócios jurídicos que passou a posse da referida fazenda à Nery, bem como a reintegração da posse no imóvel.
De outro lado, Nery também acusava Cesar Sechi e Julinere de falsificarem as escrituras das terras. Em 26 de fevereiro de 2024, quatro meses antes do assassinato, Nery acionou o casal em ação de nulidade de escrituras públicas de compra e venda, acusando o espólio de Dorvalino de falsidade ideológica.
“Trata-se, portanto, de falsidade ideológica, acima demonstrada, pois com base em origem de título transplantado irregular e ilegalmente da Comarca de Cuiabá para a Comarca de Barra do Garças, Primavera do Leste e depois para a Comarca de Novo São Joaquim, com outra localização e outros limites, de onde se desmembrou os títulos falsos causa de pedir da referida da Ação Declaratória”, rebateu. Pouco menos de um mês após o ajuizamento, Nery manifestou a desistência da ação em 5 de março – o que foi deferido pela juíza Tabatha Tosetto, da Vara Única de Novo São Joaquim.
Já na ação de reintegração movida pelos Sechi, depois da disputa intensa travada por décadas na Justiça, as partes assinaram um acordo. O espólio de Durvalino Sechi, então, reconheceu a posse da área à Nery. O acordo foi assinado no dia 20 de setembro de 2024, após a execução do advogado.
Informações apuradas por Olhar Direto apontam que os empresários Julinere e César teriam pago R$ 150 mil pela execução do advogado. O crime está relacionado a uma disputa por dois imóveis, que dividem os 800 hectares, avaliados em mais R$ 30 milhões no interior de Mato Grosso.
Durante o andamento das investigações, o policial militar Heron Teixeira confessou sua participação no homicídio. Ele detalhou que dividiu o dinheiro apenas com Alex Cardoso, que trabalhava como caseiro em uma chácara de sua propriedade. O combinado inicial era de R$ 200 mil, mas apenas parte do montante foi efetivamente paga.
Ainda segundo o militar, o PM Jackson Pereira Barbosa – vizinho de condomínio do casal – teve participação no crime e foi o responsável por cooptar outro policial, Ícaro Nathan Santos Ferreira, integrante da inteligência da Rotam, que conseguiu a arma usada na execução: uma pistola Glock G17 modificada para o modo automático.
Jackson e Ícaro foram presos no dia 17 de abril durante as primeiras fases da Operação Office Crime – O Elo, conduzida pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Renato Nery foi atingido por disparos de arma de fogo em frente ao seu escritório, no bairro Bosque da Saúde, em Cuiabá, no dia 5 de julho de 2024. O advogado chegou a ser socorrido e passou por cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos.
Julinere e César, que vivem em Primavera do Leste, foram alvos da Operação Office Crime – O Elo, deflagrada pela Polícia Civil em abril deste ano. Na época, foram obrigados pela Justiça a usar tornozeleiras eletrônicas por risco de fuga.
Nesta sexta-feira (9), ambos foram presos novamente após o avanço das investigações. Os mandados de prisão temporária e de busca e apreensão foram cumpridos pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá e expedidos pelo Núcleo de Inquéritos Policiais da Comarca da Capital (NIPO).
A Polícia Civil afirma que as investigações já comprovaram a conexão entre o casal, os intermediários e os executores do crime, e que o inquérito se aproxima da conclusão.
No dia 1º de maio, a DHPP indiciou Alex Roberto e Heron Vieira por homicídio triplamente qualificado. Os agravantes são motivo torpe, paga ou promessa de recompensa, e recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
Outros envolvidos foram indiciados no dia 30 de abril por participarem de um confronto forjado que tinha como objetivo ocultar a arma do crime. Leandro Cardoso, Wailson Ramos, Wekcerlley de Oliveira e Jorge Martins responderão por homicídio qualificado, duas tentativas de homicídio, fraude processual e porte ilegal de arma de fogo.