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Quarta-feira, 23 de abril de 2025

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MAIS DE R$ 2,2 BILHÕES

Conflito por fábrica e execuções: conglomerado de ex-prefeito colapsa e apresenta o maior pedido de recuperação do estado

Foto: Reprodução

Conflito por fábrica e execuções: conglomerado de ex-prefeito colapsa e apresenta o maior pedido de recuperação do estado
O Grupo Safras, gigante na produção e armazenamento de soja a nível mundial, finalmente apresentou pedido de recuperação judicial à 4ª Vara Cível de Sinop. O conglomerado, composto por mais de 33 empresas e seis pessoas físicas, é propriedade do ex-prefeito de Sorriso, Dilceu Rossato, e do empresário Pedro de Moraes Filho. O requerimento foi apresentado nesta sexta-feira (4), alegando dívidas que ultrapassam os R$ 2,2 bilhões.


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Após uma série de fatores que culminaram na severa crise econômico-financeira, não restou outra saída ao conglomerado senão pleitear o socorro judicial para renegociar o passivo bilionário. Enquanto isso, o grupo é alvo de centenas de ações de execução e até uma reintegração de posse em Cuiabá, sendo esta a principal razão para o requerimento.  
 
No pedido, as empresas apontam cinco fatores como principais para o desequilíbrio financeiro.  O primeiro é a queda no preço da soja em 2023, provocada por excesso de estoque global, o que reduziu as vendas do grupo em cerca de 40%.
 
O segundo é oriundo da dificuldade de acesso a crédito de longo prazo e ao alto grau de alavancagem financeira. O terceiro está relacionado a investimentos realizados sem estrutura adequada de financiamento, com uso do modelo project finance, somado com falha na implantação do sistema de gestão empresarial, que não foi concluída após a falência da consultoria contratada, causando prejuízos operacionais e contábeis irreversíveis.
 
O principal problema enfrentado, segundo a peça, é a disputa judicial com a Carbon Participações, sucessora da massa falida da Olvepar, na casa dos R$ 144 milhões. A empresa move ação de reintegração de posse sobre uma planta industrial operada pela Safras Agroindústria em Cuiabá (MT) desde 2020, sob contrato de subarrendamento. A Carbon alega inadimplência contratual, enquanto os requerentes sustentam que a retomada da unidade comprometeria a produção e geraria prejuízos irreversíveis.
 
Embora a Justiça tenha suspendido provisoriamente a ordem de despejo, a Carbon já interrompeu o fluxo de caminhões no local, afetando o funcionamento da unidade. Para a Safras, essa planta é crucial para a continuidade das suas atividades.
 
Na petição, o conglomerado requer o processamento conjunto da recuperação judicial dos dois núcleos, a antecipação do stay period — que suspende execuções e ações judiciais por 180 dias —, o reconhecimento da essencialidade da planta industrial de Cuiabá e dos armazéns e a proteção contra cláusulas que permitem rescisões automáticas por inadimplência contratual.
 
A crise, conforme exposto na peça, vai atingir diretamente mais de 180 funcionários da planta de Cuiabá e milhares de trabalhadores indiretos em outras frentes de atuação, além das centenas de milhares de sacas de soja.
 
Também impacta a arrecadação tributária de municípios mato-grossenses e representa risco sistêmico para fornecedores, produtores e agentes do mercado de grãos.
 
A 4ª Vara Cível de Sinop, responsável por determinar que o Safras pleiteasse devidamente com a Recuperação, deve decidir nos próximos dias se a aceita a medida e determina a suspensão das execuções. Enquanto isso, o conflito envolvendo a Carbon permanece pendente de desfecho no Tribunal.
 
Diante da quantidade de ações de execução que pesa contra o grupo, somada com o processo de reintegração de posse, a expectativa é que Rossato e Morais Filho enfrentem dificuldades por parte dos credores para concluir o processo de recuperação.

O Núcleo Rossato iniciou nos anos 80 com Dilceu Rossato e Cátia Regina, que começaram a produção agrícola em terras arrendadas. Com o tempo, a família adquiriu 4.641 hectares em Sorriso, investindo em armazéns, que são os pivôs centrais de irrigação e infraestrutura administrativa. A operação é hoje conduzida pelos filhos do casal, Caroline e Luiz Rossato, empregando centenas de trabalhadores na região.
 
O Núcleo Safras surgiu em 2010 a partir da sociedade entre Dilceu Rossato e Pedro Moraes Filho. Com atuação nas áreas de armazenagem, bioenergia e agroindústria, o grupo tornou-se um dos maiores do Centro-Oeste.
 
Possui 14 armazéns com capacidade total de 700 mil toneladas, uma usina de etanol de milho com cogeração de energia e unidades industriais voltadas ao esmagamento de soja, que acumulam 40 milhões de toneladas processadas. Em 2023, o grupo adquiriu a Copagri, hoje Safras Agroindústria, assumindo um passivo de R$ 500 milhões.
 
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