O advogado Antonio João de Carvalho, alvo de operação nesta quinta-feira (28) sob suspeita de envolvimento no homicídio do ex-presidente da OAB-MT, Renato Nery, pediu celeridade no aprofundamento do caso. Em entrevista ao Olhar Jurídico, Antonio disse que teme ser vítima de informações superficiais. Como exemplo, citou a morte de outro advogado, Roberto Zampieri, que chegou a gerar a prisão de uma pessoa posteriormente considerada inocente.
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A Operação Office Crime cumpriu cinco mandados de busca e apreensão. Os mandados foram cumpridos em endereços residenciais e escritório de advocacia dos investigados nas cidades de Cuiabá e Primavera do Leste. Renato Nery tinha 72 anos quando foi morto em 5 de julho deste ano. Ele chegava em seu escritório, localizado na Avenida Fernando Corrêa da Costa, uma das principais vias da capital, quando foi atingido por disparos. Os fatos apurados nas investigações da delegacia especializada apontam a disputa de terra como a motivação.
Ao pedir aprofundamento das investigações, Antonio João de Carvalho lembrou a morte de outro advogado, Roberto Zampieri, em dezembro de 2023. Na ocasião, a empresária Maria Angélica Gontijo chegou a ser presa preventivamente, apontada como principal suspeita. O nome, porém, foi descartado na denúncia do Ministério Público.
“Eu acho importante o aprofundamento da investigação para que a polícia, a autoridade policial consiga desvendar realmente a autoria desse crime, tanto do executor e se foi um crime de mando, para que excessos ou injustiças não sejam cometidas contra pessoas inocentes como aconteceu no caso do Roberto Zampieri, que foi presa uma mulher, Angelica, como se tivesse a certeza de que ela fosse a mandante do homicídio, quando, posteriormente foi descortinado que ela não tinha nada. Olha o prejuízo psicológico e social dessa mulher. Isso é imensurável. Não tem indenização que supra esse prejuízo que ela sofreu. Não existe isso”, afirmou o advogado.
Antonio João de Carvalho comentou ainda que antes da operação desta quinta-feira, procurou a Polícia Civil para prestar esclarecimentos. A antecipação ocorreu porque o nome de Antonio constou em uma representação proposta por Renato Nery na OAB-MT, poucos dias antes do crime.
“Eu me antecipei a esses fatos [operação] e me dispus a ser ouvido e disponibilizar aquilo que a autoridade policial achava que fosse necessário, como sigilo telefônico, sigilo telemático, sigilo bancário, o que for necessário”.
Ainda segundo o advogado, os responsáveis pela investigação ainda não têm uma linha definida de investigação. “O que a gente observa até agora, dada a complexidade dos fatos, é que a autoridade hoje se viu obrigada a investigar, a estender a investigação para diversas pessoas, porque a gente observa que não tem uma linha conclusiva a respeito desses fatos. Eu observo que eles estão analisando conexões com pessoas em relação a processos que poderiam culminar com o homicídio”.
Antonio João de Carvalho disse ainda que entende posicionamento de familiares e amigos de Renato Nery, que cobram agilidade da Polícia Civil na resolução do crime. “Enquanto cidadãos, a família está exigindo, de quem deve elucidar, uma resposta com relação ao homicídio. Toda a sociedade, todos os cidadãos têm essa prerrogativa de exigir do poder público a elucidação”.
O advogado disse respeitar a operação policial, não visualizando abusos. “Não enxergo nenhum abuso na autoridade policial, nem na equipe, que foi cumprir um mandado, não é isso, jamais. O que discordamos é que uma operação policial seja imediatamente divulgada na imprensa com fotos, muitas vezes vexatórias, com fatos inverídicos.
“Não tivemos acesso aos autos do inquérito e já fizemos esse pedido hoje, inclusive foi negado inicialmente porque o procedimento estaria com vistas ao Ministério Público. Então eu não tive acesso. Eu não tenho hoje, por exemplo, ciência do que existe no processo e motivou uma busca e apreensão na minha residência e no meu escritório. Levaram meu computador de trabalho, levaram meu notebook de trabalho, levaram o dinheiro que estava na minha casa, que era do meu trabalho, entraram na minha casa às seis horas da manhã quando eu estava dormindo junto com minha esposa, reviraram minhas coisas, pegaram o que eles acharam que podia”.
Por fim, o advogado comentou sobre depoimento marcado. “Eu estou intimado para prestar depoimento no dia 10 de dezembro. Acredito que a minha oitiva ficou um tanto afastada da busca e apreensão de hoje para que haja tempo suficiente da análise dessa documentação que possa instruir a autoridade policial a fazer as perguntas necessárias, os esclarecimentos necessários, até porque foi levado o meu celular pessoal”.