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Sábado, 07 de dezembro de 2024

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RELATÓRIO DA PF

Líder de caminhoneiros em MT articulou golpe junto a general de Bolsonaro; padre de VG citado

Foto: Reprodução

Líder de caminhoneiros em MT articulou golpe junto a general de Bolsonaro; padre de VG citado
Líder dos caminhoneiros autônomos de Diamantino, São José do Rio Claro e Alto Garça, Lucas Rotilli Durlo, o Lucão, e o padre Paulo Ricardo de Azevedo, da Paróquia Cristo Rei, em Várzea Grande, tiveram participação nas articulações do plano que golpista de Jair Bolsonaro, que pretendeu derrubar o presidente Lula (PT), culminando nos atos depredativos do 8 de Janeiro. Eles são citados no relatório da Polícia Federal, que detalhou o processo que resultou na tentativa de ruptura institucional do país.


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Lucão

De acordo com a PF, Lucão mantinha contato direto com o Planalto, via o então secretário-executivo da Presidência da República de Bolsonaro, o general Mário Fernandes. Lucão era um dos líderes do acampamento instalado no Quartel General do Exército de Brasília.

Interceptações revelaram que Mauro Fernandes orientou Lucão Diretamente sobre como proceder com manifestações na capital do país, confirmando que já tinha feito ajustes para o ato ocorrer sob supervisão da Secretaria de Segurança.

Para além disso, a relação de ambos se estreitou ainda mais, a ponto de Fernandes usar da sua influência para evitar que fosse cumprida uma decisão do Supremo Tribunal Federal contra os acampados.

No dia 8 de dezembro de 2022, Lucão acionou o general Fernandes pedindo ajuda para que ordem de Moraes, a qual determinou o confisco dos caminhões que estavam no QG do Exército, não fosse cumprida.

“Aí vê pra mim aí o que que o senhor consegue levantar aí se eles têm esse poder de autoridade de poder entrar dentro do QG aqui pra mexer com os caminhões. Tá bom? [...] Inclusive ele mandou prender, busca e apreensão dos caminhões que nem participaram do movimento, daquelas pessoas lá de Sorriso. [...] Aí cara, vê aí se eles podem entrar aqui dentro, se eles podem mexer, porque os caminhões estão parados desde o dia que a gente chegou lá de Brasília, de Cuiabá, ninguém em nenhum momento saiu ou rodou com os caminhões fora daqui de dentro do QG né. Aí vê pra mim aí o que o senhor consegue levantar”, pediu Lucão.

A partir do alerta feito pelo caminhoneiro, o general Fernandes começou a articulação para atender o pedido de Lucão, demonstrando o claro interesse do grupo em manter o acampamento no QG, fato que foi usado para pressionar o Comando do Exército a aderir o golpe de Estado.

Fernandes acionou o Tenente-Coronel Mauro Cid, braço direito de Bolsonaro, pedindo que ajuda do então presidente Jair para que a apreensão dos caminhões não ocorresse, impedindo a ordem do STF no local. Há ainda solicitação para que Bolsonaro mandasse a PF não cumprir a decisão.

“Se o presidente pudesse dar um input ali pro Ministério da Justiça para segurar a PF. Ou, porra, pra defesa alertar o CMP94 ‘Porra, não deixa’. Pô, os caminhões estão dentro de área militar”, disse Fernandes. Logo em seguida, Cid respondeu afirmando que iria conversar com Bolsonaro, concordando que nenhuma medida judicial poderia ser cumprida na região do QG por ser área militar.

Fernandes continuou articulando para evitar a apreensão dos caminhões e acionou o General da Reserva, Walter Braga Netto, também pedindo que ele entrasse em contato com Bolsonaro visando “segurar a PF”.
 
As mensagens, de acordo com a PF, confirmam a relação coordenada entre os manifestantes que incitavam as Forças Armadas a aderirem ao golpe de Estado com a Presidência da República, por meio do então Secretário-executivo da secretaria-geral da Presidência, o general Fernandes.

Para a PF, a permanência dos manifestantes em frente às unidades militares, dentro do planejamento traçado pela organização criminosa, era fundamental para o êxito da ruptura institucional. O objetivo era pressionar o alto comando do Exército a mudar sua postura legalista e aderir ao golpe de Estado.

A investigação chegou a essa conclusão a partir de uma mensagem enviada por Fernandes a Mauro Cid, um dia depois de Lucão reclamar sobre a ordem de Moraes. No diálogo, Fernandes lembra do impacto do pronunciamento de Bolsonaro aos apoiadores no Alvorada, que os deixou confiantes. No mesmo dia, Jair se reuniu com o general Estevam Theóphlo, recebendo seu apoio ao golpe caso Bolsonaro assinasse o decreto.

Fernandes disse a Cid que Lucão e sua família, bem como os caminhoneiros acampados, se emocionaram com o discurso do Presidente, demonstrando a proximidade de Bolsonaro ao aceitar o assessoramento do general, no sentido de ir falar com os apoiadores.

“Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento”, disse Fernandes.

Apesar do esforço empenhado por Fernandes, a ordem de Moraes foi cumprida no dia 15 de dezembro, quando 81 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em sete estados e no Distrito Federal. Na manhã seguinte, Lucão ligou para Fernandes avisando sobre a fuga dos caminhões que estavam na frente do Quartel General.

“A mensagem demonstra que os manifestantes seguiam as orientações e ordens do MARIO FERNANDES de como proceder, aguardando as ordens do presidente da República. Em trecho do áudio LUCÃO diz: “(...) Eu queria ver com o senhor aí qual que é a perspectiva, até quando vocês querem que a gente fique aqui, general? Vê com o Presidente aí (...)”, completa o relatório da PF.

Padre Paulo Ricardo

Bolsonarista convicto, o pároco de Várzea Grande, Paulo Ricardo de Azevedo foi flagrado em conversas com José Eduardo de Oliveira Silva, outro padre já indiciado por participar do núcleo jurídico do esquema. Alinhamento ideológico e religioso era costurado para legitimar as ações dos manifestantes.

A PF flagrou uma conversa em que Paulo Ricardo disse a José Eduardo que estava de “malas prontas” para ir à Brasília. O diálogo ocorreu no dia 25 de dezembro de 2022, período em que os investigados ainda nutriam uma esperança de consumação do golpe de Estado.

O padre católico José Eduardo de Oliveira e Silva, da Diocese de Osasco, na Grande São Paulo, um dos 37 indiciados pela Polícia Federal (PF), criou e compartilhou por meio do WhatsApp uma "oração ao golpe". O texto foi enviado em 3 de novembro de 2022, logo após as eleições presidenciais, segundo o relatório da PF.
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