O empresário Valdoir Slapak ofereceu dois carros ao advogado Roberto Zampieri como pagamento pelo suposto esquema em vendas de decisões judiciais. Valdoir é sócio da Fource Mineração LTDA, companhia que, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), atuava em um esquema de venda de decisões judiciais de gabinete do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
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O esquema foi descoberto a partir de conversas do celular de Zampieri, assassinado em dezembro de 2023, em Cuiabá.
Segundo consta na decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo tribunal Federal (STF), um dos diálogos firmados em conversa estabelecida entre Valdoir Slapak e Roberto Zampieri foi o momento do sócio da empresa “acertando” um valor em aberto com o jurista. Na ocasião, em 13 de setembro de 2023, Slapak teria oferecido dois carros que ele diz ter pagado o total de R$ 350 mil. (Confira o diálogo abaixo).
Valdoir: “Preciso acertar contigo nosso valor em aberto. Boa tarde. Peguei esses carros... veja se te interessa.”
Roberto Zampieri: “Boa tarde. Qual o valor desses carros?”.
Valdoir: “Peguei por 350”.
Roberto Zampieri: “
Ok. Tá bom! O valor nosso é 600, isso? A diferença você consegue me pagar essa semana?”.
Valdoir: “600 ou 400?”.
Roberto Zampieri: “O saldo era 400, mas aí teve o filho do Velho que eu e você acertamos pagar 200 p [sic] Ele, pois ele deixou de atender o filho que estava pedindo em favor do
Allan. Não sei se você recorda”.
Valdoir: “fato”
Allan, segundo a polícia, seria o advogado Alan Vagner Schimidel, que apareceu em conversa com Roberto Zampieri também data de 13 de setembro de 2023. Naquele momento, constou dos registros de conversas ter Alan sugerido a Zampieri “convencer o Valdoir a fazer acordo comigo naquele processo de José Pupin”, o que possibilita, de fato, “a inferência de que Alan representou a parte contrária naquele processo, assim como que um dos filhos do Desembargador estaria realmente pugnando pelo auxílio do pai na demanda judicial”.
O advogado Roberto Zampieri tentou obter uma decisão favorável junto ao desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), Sebastião de Moraes Filho, em um processo no qual ele representava José Pupin.
Segundo revelado, a discussão tinha como objeto um processo judicial de direito processual civil e do trabalho com indenização do prejuízo, em que a polícia encontrou a minuta de contrato de prestação de serviços advocatícios entre Roberto Zampieri e José Pupin no valor de R$ 12 milhões.
“Entre os dias 11 e 13 de setembro do ano passado, emergiu possível poderio de Zampieri nos atos do Desembargador Sebastião de Moraes Filho, indicando-se, outrossim, potencial favorecimento a um de seus filhos como compensação a um êxito judicial alcançado pela parte que Roberto Zampieri representava no processo”, diz trecho do documento.
A operação
Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), foram cumpridos um mandado de prisão preventiva e 23 de busca e apreensão em Mato Grosso, Pernambuco e no Distrito Federal, além de medidas cautelares como instalação de monitoramento eletrônico, afastamento das funções públicas de servidores e membros do Poder Judiciário, sequestro, arresto e indisponibilidade de bens e valores dos investigados.
Também são investigadas negociações relacionadas ao vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais.