Relatório da representação da Polícia Federal na Operação Sisamnes aponta que o advogado Roberto Zampieri, assassinado em Cuiabá em dezembro de 2023, teria oferecido um relógio de luxo Patek Philippe ao desembargador João Ferreira Filho, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, como "uma vantagem" em troca de decisões favoráveis no Poder Judiciário.
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As investigações apontam para um suposto esquema de venda de decisões judiciais, envolvendo advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados.
Segundo o relatório, os elementos apontam para possíveis solicitações e recebimentos de vantagens financeiras indevidas, obtidas por força do cargo de Desembargador que João Ferreira Filho exerce.
A representação mencionou, logo ao seu início, uma troca de mensagens e imagens entre ambos acerca de um relógio da marca Patek Phillipe, o qual, segundo a autoridade policial, seria uma contrapartida ou uma vantagem a ser recebida em virtude do cargo do desembargador.
Em diálogo de 8 de novembro de 2023, demonstrando veemente relação de proximidade com o investigado, Zampieri chegou a mencionar que levaria o item para que o Desembargador João Ferreira Filho pudesse analisá-lo.
Constou do diálogo: “Eu vou levar esse para o senhor ver, amanhã ou sexta”.
Uma suposta incursão criminosa do investigado foi ligada, primeiramente, a Agravo de Instrumento alusivo a um processo que tramitava na 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Mato Grosso, a qual o Desembargador João Ferreira Filho integrava.
Os registros revelam que, no mesmo dia da troca de mensagens e imagens sobre o relógio, Roberto Zampieri solicitou ao Desembargador que examinasse “aquele caso”, tendo respondido João Ferreira Filho que não estaria em Cuiabá, mas que retornaria à capital do Mato Grosso no dia 14 de novembro e analisaria a situação.
Conforme a autoridade policial e a análise dos autos do TJMT, Roberto Zampieri não estava registrado como advogado das partes no agravo de instrumento referido. Os advogados eram Flaviano Kleber Taques Figueiredo, também investigado, e Marcelo Pereira de Lucena, o que, de fato, pode sugerir que Roberto Zampieri “também atuava como intermediador, dada sua nítida influência com o desembargador João Ferreira Filho”.
A operação
Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), foram cumpridos um mandado de prisão preventiva e 23 de busca e apreensão em Mato Grosso, Pernambuco e no Distrito Federal, além de medidas cautelares como instalação de monitoramento eletrônico, afastamento das funções públicas de servidores e membros do Poder Judiciário, sequestro, arresto e indisponibilidade de bens e valores dos investigados.
Também são investigadas negociações relacionadas ao vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais.