O juiz Moacir Rogério Tortato, da 3ª Vara Criminal de Várzea Grande, condenou quatro policiais pelos crimes de associação ao tráfico, corrupção passiva e extorsão mediante sequestro. Somadas, as penas chegam aos 32 anos de reclusão. Com exceção de uma das condenadas, que cumprirá a pena no regime semiaberto, os outros três foram sentenciados ao regime fechado. Os quatro, que eram agentes da polícia civil, foram alvos da Operação Abadom e perderam o cargo na condenação.
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A “Operação Abadom” foi deflagrada em junho de 2013. De acordo com o Ministério Público, o delegado João Bosco Ribeiro de Barros (já falecido e, portanto, excluso do processo), juntamente com sua esposa - uma das condenadas - que é investigadora de Polícia), atuando em conjunto com outros denunciados, agiram mediante promessa de propina no intuito de darem proteção e cobertura à atividade do traficante Marco Antônio da Silva, conhecido como Neném.
O delegado, sua esposa e outros agentes de polícia chegaram a ser presos ainda em 2013. Investigadora de Polícia, a espósa do delegado foi condenada a cinco anos e oito meses de reclusão, no semiaberto, por associação ao tráfico, corrupção passiva e concurso material.
os outros três foram sentenciados pelo crime de extorsão mediante sequestro e, quando do trânsito em julgado, deverão cumprir os nove anos de reclusão no regime fechado.
Além dos anos de reclusão, o magistrado impôs ao quarteto a perda dos cargos públicos, tendo em vista que aproveitaram da condição de agentes policiais para beneficiar-se e, também, a terceiros, na pratica criminosa, permanecendo inertes quando, em verdade, tinham dever de agir para cessar os delitos.
“Da análise dos depoimentos judicializados ficou plenamente comprovado que os acusados praticaram efetivamente o delito de extorsão mediante sequestro, cerceando a liberdade da vítima por horas, acusando-a do crime de tráfico de drogas e privando-a da liberdade, com a ostensiva ameaça de prisão em flagrante caso não fosse efetuado o pagamento de resgate para sua libertação”, anotou o magistrado.
Em decisão proferida em 2019, O juiz Bruno D'Oliveira Marques citou que em maio de 2014 foi proferida uma decisão que determinou o afastamento dos réus de seus cargos públicos pelo prazo inicial de 120 dias, proibindo-os de acessar dependências policiais, utilizar bens, veículos ou equipamentos da Instituição.
Após o cumprimento deste prazo foram proferidas outras três decisões prorrogando o afastamento por mais 120 dias, cada uma. O prazo da última prorrogação se encerrou no mês de fevereiro de 2018.
Em abril de 2018 a Justiça recebeu um ofício da Diretoria Geral da Polícia Civil do Estado de Mato Grosso, informando que o prazo para afastamento dos réus finalizou em fevereiro de 2018. Eles solicitaram informações sobre o feito porque que os réus teriam formulado um requerimento indicando que estavam à disposição para retorno. O juiz então reconheceu o encerramento do prazo.
No entanto, o magistrado reforçou que a revogação tem efeito apenas sobre o afastamento do cargo, sem interferir em outras medidas que tenham sido tomadas em procedimento administrativo ou criminal. Além disso, o juiz definiu que os réus ocupem apenas cargos administrativos, “ou seja, vedada a participação em ações operacionais”.
Operação Abadom
A "Operação Abadom" teve como alvo um esquema no qual atuariam onze pessoas, entre eles traficantes, o delegado e a investigadora, que é casada com João Bosco, e agentes de polícia. De acordo com a Polícia Civil, ao todo, 15 pessoas foram indiciadas na conclusão das investigações, sendo seis policiais civis.
As investigações iniciaram com a prisão em flagrante de uma pessoa na rodoviária de Várzea Grande, que reuniu provas que levaram a identificação de 11 membros da quadrilha. Com a conclusão do inquérito, mais quatro policiais civis foram indiciados pelos crimes de abuso de autoridade, concussão e extorsão mediante sequestro.
A corregedoria participou de todos os atos que envolveram policiais civis nas investigações da Delegacia de Entorpecentes, contando com dois corregedores trabalhando no relatório do inquérito juntamente com os delegados da DRE.