Paulo Henrique de Figueiredo (MDB), vereador de Cuiabá detido na última sexta-feira (20) durante a Operação Pubblicare, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-MT), atuava como intermediário entre o Comando Vermelho e autoridades públicas, facilitando a concessão irregular de licenças e permitindo a realização de shows e eventos sem a documentação necessária. Via interceptações nos celulares dos alvos, as investigações flagraram que o parlamentar recebia benefícios financeiros em troca dessa intermediação.
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Uma das principais evidências usadas pela Delegacia contra Paulo Henrique são as conversas interceptadas em seu celular.
Em uma dessas trocas de mensagens, com Ronnei Antonio Souza da Silva, um dos responsáveis pelo estabelecimento "Quiosque do Xomano", o vereador orienta o empresário sobre como reaver equipamentos sonoros apreendidos pela fiscalização. Nas mensagens, Paulo Henrique instrui Ronnei a solicitar a retirada dos equipamentos e garante que ele poderia reabrir o estabelecimento após conversas com fiscais responsáveis.
As interceptações revelam um padrão de interferência do vereador em fiscalizações, assegurando que estabelecimentos sob sua proteção não fossem penalizados. Em troca, Paulo Henrique exigia pagamentos de propina, com valores que variavam entre R$ 600,00 e R$ 2.000,00, depositados diretamente em contas indicadas pelo parlamentar. Esses depósitos foram registrados em relatórios da Polícia Federal, como o Caso Simba, que trata da lavagem de dinheiro vinculada ao esquema.
Outro ponto crucial do relatório é a utilização de José Márcio Ambrosio Vieira, tio da esposa de Paulo Henrique, como laranja em transações financeiras. O parlamentar usava a conta de José Márcio para movimentar grandes quantias de dinheiro, evitando que os valores fossem rastreados diretamente até ele.
Em uma dessas operações, Paulo transferiu R$ 50.000,00 para José Márcio, afirmando que mais R$ 50.000,00 seriam enviados posteriormente, totalizando R$ 200.000,00. Esses valores foram aplicados em investimentos que, segundo os investigadores, levantam suspeitas sobre a origem ilícita do dinheiro.
Além disso, o vereador utilizava o cartão de crédito de José Márcio para cobrir despesas pessoais, incluindo gastos realizados durante uma viagem a São Paulo. Essas transações foram apontadas como mais uma evidência do uso de laranjas para ocultar a verdadeira titularidade dos recursos.
O relatório também descreve a relação entre Paulo Henrique e Rodrigo Rosa, fiscal da Prefeitura de Cuiabá. O vereador frequentemente solicitava a Rodrigo que realizasse fiscalizações mais rigorosas em estabelecimentos concorrentes, ao mesmo tempo em que assegurava a leniência para aqueles sob sua proteção, como o Quiosque do Xomano.
Essa parceria é vista pelos investigadores como parte de um esquema de corrupção orquestrado, em que Paulo Henrique usava sua influência para manipular ações fiscais em benefício próprio e de seus aliados.
O envolvimento de Paulo Henrique com o Comando Vermelho vai além da intermediação entre a facção e autoridades públicas. Segundo as investigações, o vereador participava ativamente de reuniões com líderes da organização criminosa, ajudando a articular ações que favoreciam o grupo.
O relatório finaliza com a análise detalhada das transações financeiras suspeitas realizadas por Paulo Henrique e seus associados. A compra de um veículo JEEP COMPASS, quitado em nome de Maria Edinalva Ambrosio Vieira, tia de sua esposa, foi um dos exemplos utilizados para ilustrar o esquema de ocultação de patrimônio. A rápida quitação do financiamento e o uso de intermediários para realizar os pagamentos reforçam a suspeita de lavagem de dinheiro.
Paulo Henrique de Figueiredo (MDB) foi preso na sexta-feira (20) durante a Pubblicare, um desdobramento da Operação Ragnatela, da Polícia Federal, que investiga ações do Comando Vermelho para lavagem de milhões de reais por meio de shows nacionais e eventos em casas noturnas.
Eles foram alvos da Operação Pubblicare, deflagrada nesta sexta-feira (20) pela Polícia Federal, sendo um desdobramento da Ragnatela, cujo objetivo é desbaratar esquema de lavagem de dinheiro em que agentes públicos, como Paulo, facilitavam a concessão de licenças para shows e eventos em casas noturnas, de propriedade de membros do Comando Vermelho, usadas para dar aparência de licitude aos milhões de reais provenientes de crimes.
Constatando que Paulo e os demais transacionavam valores expressivos e incompatíveis com as respectivas rendas, na casa dos milhões, os quais não detinham lastro de legalidade, o juiz, então, mandou sequestrar do vereador um Renaut Sandero, um Jeep Renegade e um imóvel situado na Chácara Três Morros Aguaçu, em Cuiabá.
As investigações constataram que Paulo, na condição de vereador e presidente do Sindicato dos Agentes de Fiscalização do Município de Cuiabá, apresentou movimentações financeiras entre junho de 2023 e junho de 2024 incompatíveis com sua renda declarada de R$ 36.360.00.