Durante a festa junina da OAB-VG deste ano, o clima de confraternização deu lugar a um momento de tensão. A.B.R., que estava acompanhado de amigos e colegas, foi intimidado por Alex Sandro de Proença, conhecido como "Lelé", em abordagem que evidenciou o poder de influência e as ameaças que giram em torno do esquema de corrupção desbaratado pela Operação Gota D'Água. Servidor da Diretoria Comercial do DAE e, depois, assessor do gabinete do vereador Pablo Pereira (UB), também alvo da ação, Lelé compõe o núcleo que possibilitou as fraudes no departamento, segundo as investigações.
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Com o dedo apontado em sua direção, Lelé, em tom ameaçador, disse: "nós temos que conversar". A frase ecoou não apenas como um simples pedido, mas como um lembrete das profundas ramificações do esquema ilícito que envolvia servidores do Departamento de Água e Esgoto (DAE) de Várzea Grande.
O incidente, ocorrido durante a Festa Junina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi um dos gatilhos que alertou as autoridades para a rede de corrupção que, desde 2019, teria desviado cerca de R$ 11,3 milhões em fraudes e cobranças indevidas no DAE.
Em especial, o pedido de propina no valor de R$ 7.000,00 para a extensão de rede de água para o terreno de A.B.R., com a anuência do diretor comercial Alessandro Macaúbas Leite de Campos, revelou o modo de operação das fraudes.
A exigência da propina foi feita em abril de 2024, quando A.B.R. tentou obter o serviço de extensão de rede de água para seu terreno no bairro Nova Várzea Grande. Após a negativa do DAE sobre a viabilidade da ligação, ele buscou auxílio de Lelé, servidor do DAE e figura chave no esquema.
Lelé, aproveitando-se da amizade com o solicitante, apresentou uma solução, mas com um custo alto: R$ 7.000,00. Quando A.B.R. questionou a legalidade do valor, Lelé ofereceu alternativas, sugerindo até o parcelamento com o uso de uma máquina de cartão de um bar em VG.
O episódio ficou ainda mais grave quando A.B.R., ao relatar o ocorrido a terceiros, descobriu que Alessandro, o diretor comercial do DAE, estava furioso por conta da denúncia. As ameaças que vieram a seguir não se limitaram à cobrança da propina.
Segundo depoimentos colhidos pela Polícia Civil, Alessandro teria dito que, se encontrasse o procurador-chefe do DAE, Renan Domingues Barros, nas ruas, “iria acabar com ele”. Isso porque, A.B.R. desconfiou do valor cobrado e avisou Renan.
O medo tomou conta dos envolvidos, que passaram a temer pela própria segurança, considerando a influência política de Alessandro em Várzea Grande.
A Operação Gota D’Água, deflagrada pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (DECCOR), resultou na prisão de 11 pessoas, entre elas o vereador Pablo Pereira, considerado um dos líderes do esquema. Diante dos indícios de fraudes, a Justiça determinou o bloqueio de bens e a auditoria de todas as contas de água alteradas desde 2019.
“Em ocasião posterior, A.B.R. novamente encontrou Baru no Toca do Embaúval Bar e Mercearia (no Centro Norte de Várzea Grande), e este relatou ao depoente que “o pessoal do Comercial do DAE” (se referindo a Alessandro e Lelé) estava bravo com o depoente e com Renan por terem denunciado a questão da cobrança de R$ 7.000,00pelo serviço de extensão de rede. Naquela oportunidade, Baru enviou mensagem de Alessandro a A.B.R., relatando que “se Alessandro topasse com Renan iria pegar ele na rua”, anotou a autoridade policial no relatório.