Interceptações telefônicas executadas pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (DECCOR), as quais subsidiaram a Operação Gota D’Água, responsável por desmantelar esquema de R$ 11 milhões em propina, instalado no Departamento de Água e Esgoto de Várzea Grande (DAE-VG), revelou a influência do vereador Pablo Pereira (UB) junto aos servidores, o qual supostamente usa sua posição política para promover trocas de favores em prol da sua reeleição.
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A operação foi deflagrada na última sexta-feira (20) e chegou a prender Pablo. Contudo, ele foi solto em sede de habeas corpus pelo desembargador Gilberto Giraldelli, considerando que medidas cautelares são suficientes para o caso, como o uso de tornozeleira e a proibição de frequentar órgãos municipais de VG.
Interceptações ambientais realizadas entre 14 e 29 de julho deste ano na Diretoria Comercial do DAE captaram diálogos suspeitos envolvendo o diretor comercial do órgão, Alessandro Macaúbas Leite de Campos.
Durante o período, Alessandro, que se identifica como “braço direito” de Pablo, recebeu uma mulher não identificada e outra chamada Ana, em dois momentos distintos, com o objetivo de negociar apoio político ao vereador, em troca de cargos no DAE. Em ambas as conversas, o nome de Pablo foi citado como um dos beneficiários das articulações.
Na primeira situação, Alessandro tratava com uma mulher sobre sua possível contratação no comitê de campanha de Pablo, a partir de 15 de agosto de 2024, quando oficialmente começaria o período eleitoral. Conforme a conversa, a troca de favores tinha objetivo de garantir apoio político para reeleição de Pablo.
Na segunda conversa interceptada, o acordo girava em torno da promessa de um cargo no DAE após as eleições. Porém, a nomeação somente ocorreria se sua família apoiasse a candidatura do parlamentar. O diretor comercial explicou que novas contratações só poderiam ocorrer após o pleito, respeitando as restrições legais em vigor.
As interceptações evidenciam uma relação próxima entre Alessandro e Pablo. O Núcleo de Inteligência da DECCOR destacou que ambos possuem laços políticos notórios, com o diretor comercial tendo participado de eventos públicos ao lado do vereador. O próprio Alessandro diz que é o “braço direito” de Pablo, responsável por angariar apoio em troca de favores, como por exemplo a concessão de cargos no gabinete.
O relatório ainda expôs uma rede de servidores do DAE diretamente envolvidos na campanha do vereador. Entre os apoiadores identificados, destacam-se Paulo Ricardo Ribeiro da Silva, funcionário da empresa LOGPRO, e Aguinaldo Lourenço da Costa Silva, ambos flagrados em áudios solicitando apoio político a Pablo.
Segundo as investigações, os dois, além de manifestarem publicamente seu apoio ao vereador nas redes sociais, tinham adesivos pró-campanha em seus veículos.
Outro nome de destaque nas investigações foi Cíntia Izabel Felfili, também funcionária do DAE, que não apenas recebeu uma moção de aplauso das mãos de Pablo, como também organizou uma reunião de campanha em sua residência.
No evento, ocorrido em 23 de agosto de 2024, estiveram presentes diversos servidores da Diretoria Comercial do DAE, conforme relatado no Relatório Policial. A reunião, monitorada pela DECCOR, evidenciou o uso da máquina pública para fins eleitorais, com servidores de um órgão público participando ativamente da campanha do vereador.
Na sexta-feira (20), quando a ação policial foi desencadeada, a advogada Islaine Arruna confirmou à reportagem que a prisão de Pablo foi mantida como garantia à ordem pública, depois que ele foi submetido a audiência de custódia. O servidor Alex Sandro de Proença, lotado no gabinete de Pablo, também foi afastado de suas funções.
A investigação apontou a existência de um esquema de cobrança de propina para execução de serviços públicos e fraudes em contas de água, causando um prejuízo estimado de R$ 11,3 milhões desde 2019.
De acordo com a Polícia Civil, o vereador Pablo Pereira exercia pressão política para beneficiar o esquema, utilizando a estrutura do DAE para fins eleitorais.
A Justiça determinou ainda o bloqueio de bens e a realização de auditorias em todas as contas de água alteradas pela Diretoria Comercial do DAE desde 2019.
Em nota, a Câmara de Várzea Grande afirmou que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações e reforça que os fatos sejam esclarecidos o mais breve possível.
A operação segue em sua segunda fase, com a investigação sendo encaminhada ao Ministério Público Eleitoral para apurar possíveis implicações no processo eleitoral.
A ação policial resultou em 11 prisões preventivas e 18 ordens de afastamento de servidores públicos, incluindo o vereador Pablo Pereira, apontado como um dos líderes do esquema. Pablo foi preso e, por força de HC, foi colocado em liberdade provisória mediante uso de tornozeleira eletrônica e foi proibido de acessar as dependências do DAE e da Câmara.
Outro lado
O vereador por Várzea Grande, Pablo Pereira (União), avalia que a sua prisão teve viés político, pautada em provas fundamentadas apenas na relação política que possuía com os servidores da autarquia apontados como integrantes do grupo criminoso.
Pablo Pareira em sua defesa alega que em todo o processo investigativo não há qualquer apontamento ou prova de que ele recebeu vantagem financeira ou que ele tivesse acesso ao sistema do DAE-VG para manipular dados e assim obter vantagens em possíveis pagamentos feitos à autarquia.
-(1).jpeg "Alvo de operação contra esquema de propina no DAE, braço direito de vereador é flagrado negociando apoio político em troca de cargo; veja")
