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Sábado, 12 de outubro de 2024

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Após TRF liberar R$ 1 bi

Familiares de pescador assassinado em fazenda de Arcanjo conseguem penhorar R$ 5 milhões em bens do ex-bicheiro

Foto: Reprodução

Familiares de pescador assassinado em fazenda de Arcanjo conseguem penhorar R$ 5 milhões em bens do ex-bicheiro
A juíza Silvia Renata Anffe Souza, da 4ª Vara Cível de Várzea Grande, determinou a penhora de R$ 5 milhões em bens do ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, atendendo a pedido de indenização feito pelos familiares de Itamar Elias de Almeida Barcelos. Itamar foi assassinado em 2004 por um grupo de pistoleiros de Arcanjo, quando ele e três foram pescar em uma das suas propriedades.


Leia mais: Justiça Federal reverte perdimento de bens de Arcanjo avaliados em quase R$ 1 bilhão

Após o assassinato, esposa e filhos de Itamar acionaram a Justiça requerendo indenização pelos danos causados por Arcanjo. Diante da confusão patrimonial do ex-bicheiro, o processo se arrastou por anos sem que a família pudesse receber o montante indenizatório.

Porém, em julho deste ano, a Justiça Federal reverteu o perdimento de bens de João Arcanjo, avaliados em cerca de R$ 1 bilhão.  

"Após mais de duas décadas de dura batalha, a Segunda Seção do TRF1, por 7 votos a 1, acaba de anular a condenação de João Arcanjo Ribeiro na ação penal 2003.36.00.008505-0. Com essa decisão é restaurada um pouco da injustiça praticada neste processo ao longo dos anos. Anulada está uma pena de 11 anos e 4 meses e, principalmente, o perdimento dos bens de Arcanjo, que deverão ser restituídos pela União", escreveu Paulo Fabrinny, advogado que o defendeu em tal processo.

Na lista dos bens, há imóveis como uma casa e um hotel em Orlando, na Flórida (EUA) e valores em contas bancárias. Arcanjo foi acusado chefiar uma quadrilha que atuava no crime organizado no Mato Grosso, com envolvimento na exploração ilegal de jogos.

Na ação movida pela família de Itamar, houve sentença que condenou Arcanjo a pagar a indenização pretendida, sem que, contudo, houvesse o seu cumprimento diante de vários bloqueios que recaíram, em processos diferentes, sobre os bens do ex-bicheiro.

Com a decisão da Justiça Federal, a defesa dos familiares de Itamar, então, pleiteou o início do cumprimento da sentença. Com isso, pediu, inicialmente, a penhora sobre cinco imóveis, distribuídos entre Alta Floresta e Colíder, bem como a Fazenda Colibri, em Santo Antônio.

Tal pedido não teve decisão pelo menos até o último dia 20, quando a juíza Silvia Renata Anffe Souza, considerando o desbloqueio imposto pela Justiça Federal, ordenou a penhora de R$ 5.658.056,25 referentes a seis ações de perdimento e sequestro de bens contra o ex-bicheiro.

O deferimento atendeu a ação movida em 2005 pelos familiares de Itamar, os quais, somente agora, obtiveram uma vitória no sentido de fazer Arcanjo reparar os danos que causou.

A chacina

Em 2004, os pescadores Pedro Franscico da Silva (25), José Francisco de Almeida (27), Arelir Manoel de Oliveira (32) foram torturados e afogados, após seguranças que seriam pistoleiros do ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, terem matado o seu colega, Itamar Barcelos (32).

Eles resolveram pescar em uma das propriedades do ex-bicheiro, sem autorização: a fazenda São João, na Passagem da Conceição, em Várzea Grande. Conforme a denúncia, os seguranças vistoriavam os arredores das represas, devidamente armados, ação que era rotineira e ocorria até às 21 horas. No dia do fato, por volta das 20 horas, o grupo teria se dividido em dois, sendo que cada um foi para um lado da represa.
 
O segundo grupo localizou as quatro vítimas pescando, surpreendendo-as com disparos de arma de fogo. Itamar foi o primeiro a morrer, já que o disparo de arma de fogo foi fatal. Outro deles acabou atingido no abdômen, mas não foi a óbito na hora.
 
Após os disparos, os seguranças teriam se reunido para verificarem o que havia ocorrido. As vítimas sobreviventes foram dominadas, tendo mãos e pés amarrados, uma às outras e sob a mira de armas de fogo, momento em que o acusado Edinho telefonou para Joílson, que era um dos administradores da fazenda e narrou o ocorrido da seguinte forma:
 
"Matamos uma capivara e tem três amarradas, se quiser, trás uma faca para tirar o couro"
 
Ao tomar conhecimento do fato, Joílson foi até o local com Noreci, e ordenou que os pistoleiros afogassem as vítimas que haviam sobrevivido aos tiros, afirmando que  fariam isso para que não deixassem pistas do homicídio que vitimou Itamar.
 
As vítimas foram amarradas juntas e jogadas na represa, sem darem ouvido aos gritos de clemência dos pescadores. Acrescenta ainda que, no momento em que as vítimas submergiram, buscando meios de saírem da água, eram impedidas pelos acusados Alderi e Evandro.
 
Após a morte de todos serem constatadas, os seguranças colocaram seus cadáveres no veículo Saveiro e fizeram a desova dos corpos, um a um, na margem da estrada.

O crime bárbaro foi relatado no processo judicial que culminou nas condenações de vários seguranças da fazenda de Arcanjo, são eles: Joilson James Queiroz, e os seguranças Noreci Ferreira Gomes, Valdinei, Evandro Negrão, Édio Gomes Júnior, o “Edinho”, Alderi Souza Ferreira, o "Tocandira", Adeverval José Santos, o “Paraíba”, e Carlos César André, o “Pezão”.
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