Área com mais de 60 mil hectares da massa falida das Fazendas Reunidas Boi Gordo, situada no Parque Nacional do Juruena, em Apiacás, Mato Grosso, foi leiloada por R$ 24,5 milhões, nesta segunda-feira (24). A empresa Trevo Participações, de Jaboticabal, interior de São Paulo, arrematou as terras. O leilão despertou o interesse amplo e variado de investidores, envolvendo 36 empresas na disputa, e recebeu mais de 150 lances, com mais de 7 mil visualizações no site da plataforma Positivo Leilões, responsável pela venda. O processo agora segue para a homologação da Justiça de São Paulo.
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Após três tentativas anteriores de venda sem sucesso, por outra empresa do ramo – nas quais a fazenda não recebeu nenhum lance – a propriedade finalmente encontrou um comprador, marcando mais um passo importante para a quitação dos débitos da massa falida e o fim de um longo período de espera para os credores, que se arrasta desde 2002.
Quando as Fazendas Reunidas Boi Gordo entraram em falência, o prejuízo estimado ultrapassava R$ 2,5 bilhões. Atualmente, a dívida atualizada gira em torno de R$ 6 bilhões. Até o momento, a venda de ativos da empresa já arrecadou aproximadamente R$ 540 milhões.
A empresa vencedora do leilão receberá uma propriedade que se destaca como um ativo estratégico para o cumprimento de exigências legais e ambientais, ideal para compor Compensação de Reserva Legal (CRL).
O imóvel está localizado em região originalmente coberta pelo Bioma Floresta Amazônica. Possui 61.976 mil hectares cobertos com vegetação original, dos quais 49.580 estão mantidos a título de área de proteção ambiental (Área de Reserva Legal e Área de Preservação Permanente).
Para Erick Teles, leiloeiro oficial, o certame representou uma oportunidade sem precedentes para o setor agropecuário brasileiro, configurando-se também como um case de sucesso em leilões judiciais. "Em um final marcado por lances que se sucederam minuto a minuto, a Fazenda da Boi Gordo encerra mais um capítulo de sua história. Este leilão histórico representa um passo crucial para honrar os compromissos com os credores da massa falida da Boi Gordo, além de abrir um novo futuro para a propriedade", afirmou Teles à assessoria da Positivo Leilões.
O certame público, determinado pela Justiça de SP, foi realizado pela plataforma Positivo Leilões. Os interessados participaram de forma online, por meio do site da empresa.
Todo o processo foi conduzido de forma transparente e imparcial, seguindo as regras e regulamentos estabelecidos para garantir a integridade da venda, oferecendo aos compradores confiança e segurança na sua participação.
Golpe bilionário de pirâmide
Falida em 2004, a Fazendas Reunidas “Boi Gordo” ganhou as manchetes do país no final da década de 1990, quando aplicou um golpe de pirâmide que vitimou mais de 30 mil investidores, causando prejuízo bilionário.
A ideia era vender cotas de investimentos em fazendas de gado oferecendo lucros exorbitantes, porém seguros, via processo de engorda de bois, o que obviamente caracterizou a fraude.
Nascido em 1988, o grupo, capitaneado à época por Paulo Roberto de Andrade decidiu organizar a fraude em 1996, quando passou a oferecer ao público os investimentos.
O marketing agressivo, transmitido no intervalo da novela “Rei do Gado”, um sucesso global na época, resultou no alcance de diversos investidores no país e de outros países também, inclusive famosos. Marisa Orth, Benedito Ruy Barbosa e Antônio Fagundes, o garoto propaganda, foram vítimas.
Comercial protagonizado por Antonio Fagundes vendia rentabilidade média de 3,23% ao mês. A realidade nos bastidores, porém, era bem diferente. O pagamento, que deveria vir do lucro da engorda, na verdade, era proveniente da entrada de novos investidores, a chamada “pirâmide”.
Em 2001 o esquema desmoronou e a Justiça foi acionada. Até hoje os 30 mil investidores lutam para conseguir de volta todos os valores que colocaram na fraude. Essas pessoas perderam o dinheiro e a empresa faliu em 2004, cujo prejuízo estimado e atualizado é na casa de R$ 6 bilhões. O montante devido está sendo paulatinamente devolvido por meio de ações na Justiça e leilões.
(Com assessoria)