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Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Aluno de Ledur afirma que foi afogado com auxílio de corda: 'eu ia morrer no campo final'

Foto: Rogério Florentino Pereira/ Olhar Direto

Aluno de Ledur afirma que foi afogado com auxílio de corda: 'eu ia morrer no campo final'
Justiça Militar realizou nesta segunda-feira (18) audiência de instrução em processo em face da tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur. Ação julga suposto crime de tortura. A vítima, aluno Maurício Júnior dos Santos, prestou depoimento.

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Maurício Junior contou que o sonho de ser bombeiro veio quando se mudou para Mato Grosso. Chegou em Sorriso, pouco tempo depois entrou em contato e ficou sabendo que a seleção do Corpo de Bombeiros era por meio de concurso.
 
Em Mato Grosso, passou na parte escrita e ingressou no curso em 2015. A vítima conta que veio de uma família de militares. O aluno passou em todas as disciplinas antes da prática. Desde o início, tinha dificuldade com natação.
 
Devido à dificuldade, ficou sabendo o que poderia acontecer. Ledur tinha “fama” no curso. Na disciplina de salvamento aquático, em instrução na Lagoa Trevisan, era o vice líder do pelotão. No local, Ledur pediu que fosse feito uma corrida.
 
Depois da corrida, os alunos entraram em forma. Segundo Maurício, os que chegaram primeiro da corrida, faziam mais atividades (flexão, polichinelo). Durante os exercícios, iniciaram os xingamentos proferidos por Ledur.
 
Após os exercícios iniciais em terra, começou a sentir cãibra. No meio da lagoa, um instrutor jogou uma boia. Ao ver a boia, segundo a vítima, Ledur chamou o aluno e começou a xingá-lo. Foi quando, segundo depoimento, Ledur pediu para o aluno passar a corda da boia por baixo do pescoço.
 
Ledur começou a puxar a corda e afogar o aluno. Foi quando o Aluno tocou na Ledur para que ela parasse, o que fez com que os afogamentos piorassem. Então, o aluno perdeu a consciência. Retomou a consciência apenas ao sair da lagoa, momento em que vomitou por diversas vezes.
 
Fora da lagoa, Ledur gritava para que o aluno voltasse. Naquele dia, a ambulância do Corpo de Bombeiros estava no local. O aluno foi atendido ainda na ambulância. Ledur chegou a ir até a ambulância questionar como o aluno estava. “Daí para frente, acabou a minha vida, acabou meu sonho”, afirmou Maurício.  

O aluno afirma que desistiu por achar que iria morrer. “Eu não ia sair vivo do campo final”. Salienta que, após o curso, precisou passar por tratamentos psicológicos.

O caso

Consta dos autos que, no início do ano de 2016, entre os meses de janeiro e fevereiro, durante o treinamento de salvamento aquático em ambiente natural do 15º Curso de Formação de Soldado do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso, realizado na Lagoa Trevisan, a denunciada submeteu o aluno Maurício Júnior dos Santos, que estava sob sua autoridade, com emprego de violência, a intenso sofrimento físico e mental, como forma de lhe aplicar castigo pessoal.
 
Apesar de apresentar bom condicionamento físico, bem como ter sido aprovado em todas as fases do concurso público para compor o quadro de servidores do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso, incluindo a etapa TAF (teste de aptidão física), Maurício demonstrou dificuldades na execução das atividades aquáticas, o que era visível a todos os alunos e instrutores.
 
Segundo ação, em um dos dias de treinamento, após percorrer cerca de 40 metros, a vítima começou a sentir câimbras, sendo auxiliada por outros alunos, tendo, inclusive, recebido do uma boia ecológica. Ocorre que, conforme o MP, já no meio do percurso, a denunciada determinou que os demais alunos seguissem com a travessia, deixando Maurício para trás.
 
“A partir daí, como forma de aplicar castigo pessoal, a denunciada passou a torturar física e psicologicamente a vítima, quando, além de proferir palavras ofensivas, utilizando a corda da boia ecológica iniciou uma sessão de afogamentos, submergindo-a por diversas vezes”, diz trecho dos autos.
 
Ato contínuo, ainda conforme o MP, após alguns “caldos”, o ofendido já sem forças para emergir e respirar, segurou os braços de Ledur, implorando para que ela cessasse a atividade. A denunciada, por sua vez, além de a repreender gritando “Você está louco? Aluno encostando em oficial”, só interrompeu a sessão de afogamento quando a vítima perdeu a consciência.
 
Pouco tempo depois, o ofendido acordou desesperado, já nas margens da lagoa, momento em que veio a vomitar bastante água. “Se não bastasse, mesmo a vítima apresentando esgotamento físico e mental, a denunciada exigia, aos gritos, que Maurício retornasse para a água”. A vítima desmaiou novamente, sendo necessário seu encaminhamento à Policlínica do Coxipó.

Rodrigo Claro

É o segundo processo aberto contra Ledur. Em decisão do dia 23 de setembro de 2021, por maioria, a Justiça Militar livrou a tenente bombeiro da acusação de tortura e morte do aluno Rodrigo Claro.
 
O crime foi desclassificado para maus-tratos, com pena privativa de liberdade estabelecida em um ano, a ser cumprida em regime inicial aberto, sem a perda da função
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