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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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JULGAMENTO DE MADRASTA

“Este dinheiro foi a desgraça de Mirella”, diz advogado de acusação sobre indenização de menina envenenada

Foto: Reprodução

“Este dinheiro foi a desgraça de Mirella”, diz advogado de acusação sobre indenização de menina envenenada
Jaira Goncalves de Arruda Oliveira, suspeita de envenenar e provocar a morte da enteada, Mirella Poliane Chue de Oliveira, de 11 anos, em 2019, negou ter cometido o crime. O julgamento dela, no Tribunal do Júri, começou nesta quinta-feira (9). O último depoimento de ontem foi o dela. Jaira disse que tem medo de morrer no presídio, por causa do crime que é acusada. O julgamento continua nesta sexta-feira (10), com os debates.
 
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Várias testemunhas foram ouvidas ontem (9), como a avó de Mirella, Claudina Chue Marques, médicas e uma enfermeira que tiveram contato com a menina, e o pai da vítima, José Mario, que chorou em sua oitiva e disse que perdeu todos que amava. Sem pai, sem mãe, sem a filha e sem a esposa (que morreu no parto) ele disse que quer Justiça, para que consiga passar pelo luto.
 
Jaira foi a última ouvida. Ela relatou que cuidava de Mirella, que era uma criança meiga, alegre e bem educada. Em vários momentos do depoimento Jaira chorou. Ela disse que amava a menina como ama seus outros filhos, é como se fosse sua filha. A madrasta contou que era parte da família, gastou R$ 5 mil em um aniversário para a enteada e lutou na Justiça para que seus sogros recebessem atendimento médico.
 
A madrasta nunca mencionou que a criança foi envenenada, sempre falava “quando ela estava doente”. O Ministério Público fez questão de reforçar que Mirella foi envenenada. O depoimento de Jaira contradisse o de várias outras testemunhas ouvidas ontem. Ela afirmou que os outros mentiram. A madrasta foi questionada se tem medo de morrer no presídio, e ela respondeu que sim.
 
“Eu não fiz isso. Não posso afirmar quem fez, não vou julgar os outros para não passarem pelo que estou passando [...] só eu sei o que passei naquele lugar [cadeia], não desejo isso para ninguém, acusada de matar uma criança, é horrível”, disse Jaira.
 
O julgamento continua nesta sexta-feira (10), agora com os debates.

Atualizada às 10h44 - A sessão foi iniciada pela promotora Marcelle Rodrigues da Costa e Faria. Ela começou apresentando Mirella aos jurados. Contou que a criança tinha um canal no YouTube e mostrou alguns dos vídeos gravados pela menina. Em seguida a representante do Ministério Público apontou a culpa de Jaira no crime.
 
“Esta menina foi torturada do dia 17 de abril ao dia 13 de junho. Torturada pela sua madrasta que devia cuidar e zelar por esta criança. Ela tem certeza que está praticando um crime perfeito, escolheu com vítima uma menina de 11 anos, amorosa, generosa, que só transbordava amor. Esta mulher perpetrou um crime de venefício, ministrando veneno nesta criança paulatinamente, para dar impressão de morte natural”, disse.
 
A promotora ainda relatou que o crime que matou Mirella foi descoberto por um acaso. Só após exames do IML é que o envenenamento foi descoberto. Ela disse que Jaira acreditava que tinha cometido o crime perfeito, inclusive procurou médicos diferentes, quando a menina passava mal, na tentativa de despistar.
 
“Este envenenamento desta linda criança, q não vai poder viver seus sonhos, foi por um acaso que foi descoberto, em decorrência da diarreia que acometeu a Mirella. Por conta do veneno ministrado por sua madrasta, ela tinha muita diarreia que a levou a ter assadura em sua parte genital. O médico que declarou óbito ao perceber os sinais na genitália entendeu que era abuso sexual e encaminhou o corpo para o IML. [...] hoje, se houver Justiça, pela Justiça você [Jaira] vai sair daqui condenada por ter matado uma criança de 11 anos”, disse a representante do MP.

Atualizada às 11h23 - A promotora citou que Mirella disse a Jaira que a amava, antes de morrer e enquanto espumava pela boca. Ela citou que todas as vezes que a criança era levada ao hospital, por causa dos efeitos do veneno, ela sempre se recuperava e recebia alta. No dia da morte a menina já chegou ao hospital sem vida.

Ela citou que Jaira e sua defesa tentaram culpar outras pessoas, como a avó da menina, Claudina Chue Marques. No entanto, a representante do MP demonstrou que, depois que apresentou os primeiros sintomas do envenenamento, Mirella só foi para a casa da avó em duas ocasiões, entre os meses de abril e junho. Também afirmou que não faria sentido a avó matar a neta por causa do dinheiro, já que o herdeiro seria o pai.

Encerrou sua fala às 11h23.

Atualizada às 11h41 - O assistente de acusação iniciou sua fala. Ele disse que há dúvidas com relação ao pai. No entanto, falou que não há nenhuma dúvida da autoria da morte de Mirella. 

"Não resta nenhuma dúvida de que Mirella foi assassinada por Jaira com emprego de veneno.[...] Dúvidas não restam do motivo real de jaira sempre trocar o local de atendimento hospitalar".

Ainda disse que os hospitais devem tomar ese caso como exemplo, para que peçam exame toxicológico em situações semelhantes. "Se tivessem feito isso Mirella estaria viva". Ele citou o depoimento do médico que comunicou o óbito e que suspeitou de abuso.

No momento de comunicar a morte o médico notou uma comoção considerável do pai, porém nem tanto com relação à madrasta. Ele comunicou também o fato de ter constatado alterações na genitália de Mirella, não condizentes com o quadro esperado, e comunicou que a encaminharia ao IML. Jaira então queustinou o motivo do encaminhamento e ligou para um suposto médico legista, que colocou para conversar com o médico, e perguntou os motivos do encaminhamento.

"Este doutor Lucas foi a pessoa que matou a charada, porque seria o crime perfeito".

Atualizada às 12h - A defesa de Jaira, patrocinada pelos advogados Mustafan Mistergan e João Batista Nunes da Silva, iniciou sua fala.

O advogado não questiona a materialidade do crime. Afirmou que não resta dúvida sobre ela ter sido envenenada, porque existe um laudo toxicológico.

"Agora, muitas lacunas precisam ser preenchidas, nós precisamos de respostas, existe aí uma dúvida, será que Jaira cometeu este crime ou não? [...] primeiro, existe uma falha muito grande desde o princípio inquisitivo, houve um direcionamento de foco para uma pessoa". 

Afirma que houve direcionamento para encontrar logo um culpado para dar resposta à sociedade. Segundo a defesa, na fase inquisitiva não foram questionadas algumas pessoas.

Citou o depoimento da diarista Luciney Pereira da Conceição, que disse que depois que começou a trabalhar na casa de Jaira, Mirella começou a passar mal, e que no primeiro dia que a menina passou mal Jaira estava no trabalho. A menina passou mal depois de tomar um suco. 

No entanto, a defesa disse que não acusa Luciney do crime, apenas aponta as inconsistências da investigação, já que, apesar dela também ter contato com a criança, não foi feita busca em sua casa.

13h14 - A defesa alegou que Jaira foi coagida pela polícia. Citou que foi apontado que Jaira deu uma tangerina para Mirella no dia da morte da menina, e questionou como seria possível envenenar uma fruta dessa.

"Não podemos deixar condenar uma pessoa que nunca deu indícios de maltratar a criança [...] não podemos afirmar que Jaira envenenou a filha, não existe prova".

Encerrou às 13h13 dizendo que Jaira é inocente e que no mínimo há dúvida sobre sua autoria no crime. Pediu que seja feita Justiça.

O julgamento foi suspenso para almoço.

Atualizada às 14h22 - A audiência foi retomada por volta das 14h com a réplica da promotora Marcelle Rodrigues da Costa e Faria. 

Rebateu a defesa, que questionou a atuação dos médicos que tiveram contato com Mirella, e disse que todas as vezes que a menina procurou atendimento médico, ao passar mal por causa do veneno, ela se recuperou. Na última vez ela já chegou morta ao hospital.

Ao encerrar, às 14h22 a promotora ainda reforçou que não resta dúvida neste caso. "A dúvida representaria uma injustiça e uma impunidade".

Atualizada às 14h51 - O assistente de acusação, advogado Luciano Augusto Neves, afirmou que o filho e a sobrinha de Jaira mentiram em seus depoimentos. Citou que a sobrinha disse que assinou seu depoimento sem lê-lo, dizendo que a polícia adicionou informações que ela não havia dito. 

"Dona Jaira, com todo respeito, eu não tenho nenhuma dúvida que de fato a senhora cometeu este crime contra a Mirella. Por tudo o que foi produzido nos autos, só aceitei este caso porque me convenci, pelas provas, da sua autoria", disse o advogado à madrasta, que acompanha o debate na sala.

Rebateu o argumento da defesa, de que houve direcionamento da polícia para a culpa de Jaira. Ele disse, novamente, que a dúvida que restará é se o pai tinha conhecimento ou não da aplicação do veneno. O advogado ainda afirmou que "este dinheiro foi a desgraça de Mirella".

Atualizada às 15h35 - A defesa encerra tréplica e o conselho de sentença se dirigiu à sala secreta.
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