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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Pai de menina envenenada inicia depoimento chorando e diz que perdeu todos que amava

Foto: Reprodução

Pai de menina envenenada inicia depoimento chorando e diz que perdeu todos que amava
Está sendo realizado nesta quinta-feira (9) o julgamento de Jaira Goncalves de Arruda Oliveira, pelo Tribunal do Júri de Cuiabá. Ela é acusada de envenenar e provocar a morte da enteada, Mirella Poliane Chue de Oliveira, de 11 anos. Entre as testemunhas já ouvidas está a avó de Mirella, a enfermeira que cuidou da menina no hospital e o advogado da ação que resultou em uma indenização à garota, pela morte da mãe durante o parto. O pai de Mirella, José Mario, também foi ouvido e iniciou seu depoimento chorando. Ele disse que todos que amava (sua filha, seus pais e sua ex-esposa, mãe da menina) morreram e espera que a Justiça seja feita para que possa passar pelo luto.
 
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O julgamento é conduzido pela juíza Mônica Catarina Perri Siqueira e já foram ouvidas algumas testemunhas, como a médica neuropediatra Viviane Cabral Quixabeira e a enfermeira Vilmara Correia de Andrade, que tiveram contato com Mirella no hospital. Vilmara teria cuidado da menina durante a maior parte das internações no Hospital Santa Rosa.
 
Ela disse que percebeu um interesse fora do comum na madrasta, que era muitas vezes invasiva e não dava liberdade para o trabalho dos profissionais de saúde. Jaira também teria solicitado atestado de gastos psiquiátricos, que foi negado pela equipe médica. A enfermeira também citou uma pressão para liberar alta, por causa de passagem aérea, e insistiu muito para ir para São Paulo.
 
Também foi ouvido o advogado Cássio de Almeida Ferreira, que entrou no final do processo contra o hospital, patrocinado pelos avós, por conta da morte da mãe da vítima - no dia do parto. Segundo ele, a madrasta solicitou mais tarde que o dinheiro da menina fosse utilizado para comprar um imóvel.  No entanto, ele orientou que não poderia utilizar o dinheiro da menina, muito menos para comprar imóvel.
 
Cássio admitiu que percebeu um desconforto da madrasta para liberar o corpo da enteada para a perícia médica no IML. O advogado, que trabalhava para o pai de Mirella no processo de inventário dos avós já falecidos, disse que Jaira chegou a questionar a linha sucessória da herança, caso a menina morresse.
 
Além disso, afirmou que no dia do falecimento Jaira ligou para ele, para que impedisse a perícia. Porém, Cássio disse que isso não era possível e que era melhor caminho para tirar a limpo a história.

Atualizada às 16h29 - Também foram ouvidas Jacy Maria de Amorim e Luciney Pereira da Conceição. Jacy relatou que cuidou de Mirella até a época que a menina tinha 7 anos de idade. Ela afirmou que, depois da morte dos avós da criança, ela foi impedida de vê-la, por Jaira. Jacy ainda disse que a madrasta ostentava uma vida de conforto, viajava e passeava, mas não trabalhava.
 
Além disso, também relatou como ficou sabendo da morte dos avós da menina, que segundo ela tinham sintomas semelhantes ao de Mirella. Jacy lembrou de um suco de melancia feito por Jaira, que fez muito para o avô da menina.
 
Já a diarista que trabalhou na casa da vítima, Luciney Pereira da Conceição, disse que a menina tinha boas condições de saúde, antes dela começar a trabalhar lá, por volta de março de 2019. Luciney disse que fazia a comida de todos.
 
Ela disse que quando Mirella começou a ficar doente, percebeu um desarranjo da menina. Chegou de ver fezes nas roupas e falou com Jaira e ela disse que levaria no médico, mas não levou. Luciney achou estranho que só Jaira queria tomar conta da garota, exclusivamente sozinha. Não sabia dizer se era excesso de zelo ou preocupação com outras coisas.
 
A diarista disse também que a madrasta não permitia que ninguém tocasse na menina, quando ela estava doente. Medicação, alimentação e cuidados à menina eram dados exclusivamente por Jaira.
 
No dia da morte ela chegou por volta das 6h e viu o pai segurando a menina para caminhar, com dificuldades. Só levou a menina para o hospital depois das 15h, após vômitos, estar babando e com os olhos sem brilho. Segundo a depoente, Jaira não estava preocupada porque para ela a menina estava aparentemente bem. A diarista também disse que nunca viu maus tratos por parte da madrasta.

Atualizada às 16h53 - Em seu depoimento a avó materna de Mirella, Claudina Chue Marques, relatou que não sabia das internações recorrentes da neta, que só descobria quando ligava para saber notícias. Ela afirmou que percebeu mudanças no comportamento da neta, mas a garota não lhe contava nada.
 
O Ministério Público perguntou a ela, de forma direta, “quem matou Mirella?”, e Claudina supôs que foi Jaira, por causa do dinheiro. A defesa da madrasta perguntou sobre possíveis agressões que a menina sofria, e a avó disse que tiveram várias agressões, uma delas foi que Mirella foi obrigada a cortar o cabelo longo, ficando com um corte curto. A defesa também questionou se não é normal uma criança receber correções, mas a avó disse que não, que nunca bateu na neta.

Atualizada às 17h38 - Também foi ouvido o pai de Mirella, José Mario. Ele iniciou o depoimento chorando e ao ser questionado sobre a vida da filha ao lado dos avós, disse que ela tinha uma vida normal e que no fim todos colaboravam para a criação dela. Relembrou que a menina era espontânea, inteligente, sempre alegre, era uma criança feliz.
 
José Mario afirmou que deseja que a Justiça seja feita, pois perdeu todos que amava e está sozinho há anos. Sem pai, sem mãe, sem a filha e sem a esposa (que morreu no parto) ele disse que quer que tudo acabe logo, pois precisa viver o luto das pessoas que amou.
 
“Fiz de tudo para cuidar da menina, ia para o hospital. No início, ela apresentou só paralisia e febre. Depois começou a ter vomito e diarreia. Era a mesma comida para todos”. 
 
O pai acredita, hoje, que sua filha foi envenenada. Falou também que não foi forte em tratar das coisas da morte e que deixou tudo na responsabilidade de Jaira.
 
Questionado sobre a mulher disse que ela tinha o gênio forte e era dominadora. Muitas coisas que aconteciam na casa ele não sabia. O pai também afirmou que Jaira administrava finanças da casa. Falou que ela estava montando um salão de beleza, mas ele não se metia no negócio da mulher.
 
José Mario disse que, depois da morte da filha, queria se separar da Jaira. Falou de suicídio e ao falar com ela manteve o relacionamento. Ele mandou uma carta para Jaira depois de presa, antes do laudo do IML.
 
O crime
 
Mirella Poliane morreu em junho de 2019, de causa inicialmente indeterminada. A criança deu entrada em um hospital privado de Cuiabá, já em óbito, e como o hospital não quis declarar a morte, foi acionada a DHPP para liberação do corpo. Foi solicitada a perícia por precaução, diante da falta de evidência de morte violenta. A princípio houve suspeita de meningite e de abuso sexual, mas o exame de necropsia feito pelo Instituto Médico Legal descartou o abuso.
 
A Politec, então, coletou materiais para exames complementares e, conforme Pesquisa Toxicológica Geral realizada pelo Laboratório Forense, foram detectadas no sangue da vítima duas substâncias, uma delas um veneno que provoca intoxicação crônica ou aguda e a morte.
 
O caso foi então remetido à Deddica, que durante as investigações desvendou o plano de envenenamento em virtude de a criança ter recebido uma indenização em decorrência da morte de sua mãe por erro médico, durante parto dela em um hospital de Cuiabá.
 
A equipe da Deddica concluiu que o crime foi premeditado e praticado em doses diárias, pelo período de dois meses. A indiciada causou a morte da menina usando um veneno de venda proibida no Brasil, e ministrando gota a gota, entre abril e junho de 2019.
 
Motivação

 
As investigações apontaram que a indenização recebida pela criança foi a motivação do plano de envenenamento. A ação indenizatória foi movida pelos avós maternos da criança, que em 2019, após 10 anos de tramitação do processo, ganharam a causa em última instância, com valor de R$ 800 mil, incluindo os descontos de honorários advocatícios.
 
Parte do dinheiro ficaria depositada em uma conta para a menina movimentar somente na idade adulta. A Justiça autorizou que fosse usada uma pequena parte do dinheiro para despesas da criança, mas a maior quantia ficaria em depósito para uso, após atingir a maioridade.
 
Até 2018, Mirella era criada pelos avós paternos. Em 2017, a avó morreu e no ano seguinte (2018) o avô também faleceu, passando a garota a ser criada, naquele mesmo ano, pelo pai e madrasta. Foi neste momento que Jaira iniciou seu plano para matar a criança, com o objetivo de ter acesso ao dinheiro.
 
A mulher, presa no início de setembro, foi ouvida após a morte da menina e contou que convive com o pai da vítima desde que ela tinha dois anos de idade, e que se considerava mãe da criança. Ela declarou que Mirella começou a ficar doente em 17 de abril de 2019, apresentando dor de cabeça, tontura, dor na barriga e vômito.
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