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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Organizações pedem providências ao MPE para implantação de ambulatório transexualizador

Foto: Reprodução

Organizações pedem providências ao MPE para implantação de ambulatório transexualizador
Entidades que defendem direitos para população LGBTQIA+ têm audiência nesta quinta-feira (4), às 15h, com o promotor de Justiça doutor Henrique Schneider Neto, no Ministério Público, para dialogar a respeito do trâmite de um termo de conduta sobre a instalação do ambulatório transexualizador e instalação da casa de amparo.

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As organizações solicitam urgência nesse ambulatório, que nada mais é que uma equipe multidisciplinar para atender à população transexual no cuidado com o processo de hormonização, atendimento psicológico, ginecológico e urológico, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Vão participar da audiência o Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual, as ONGs Mães pela Diversidade MT e Livremente, além da OTIMA, IBRAT e ASTRAMIT, que representa as travestis de Mato Grosso.

O Mães pela Diversidade MT é uma organização não governamental formada por mães de pessoas LGBTQIA+. O grupo pede respeito aos seus filhos e filhas, para que estes/estas possam construir suas identidades de gênero, de acordo como se identificam, tendo acompanhamento médico especifico, uma vez que este direito é garantido pelo SUS.

Coordenadora do Mães pela Diversidade MT, Josi Marconi, explica que muitas pessoas trans que vivem em Mato Grosso estão tomando hormônios e adotando alguns comportamentos perigosos, tentando fazer a transição de gênero em casa, sem acompanhamento multidisciplinar. O resultado disso é o grande risco para saúde, podendo ter tanto deformações, quanto aplicação indevida de silicone industrial e vários tipos câncer. Hormônios afetam desde o corpo ao psiquismo humano, alertam especialistas.

Não há uma contagem confiável sobre o número de pessoas trans em Mato Grosso, é necessário que seja feito uma pesquisa seria para que esse expressivo número possa ter visibilidade. “O mapeamento de pessoas trans no município de Cuiabá e no Estado é um dos nossos requerimentos para que possamos pensar em políticas públicas para essa população, de fato efetivas”, cobra Josi.

Petições online e assinaturas sobre a importância do investimento e atenção das secretarias estaduais de saúde e municipal de Cuiabá e de outros estados serão apresentadas por Benjamin Neves, do Ibrati, como exemplos de que esta necessidade é urgente.  O Ibrat é o Instituto Brasileiro De Transmasculinidades. Benjamin é um homem trans, ou seja, nasceu em corpo feminino e fez a transição para o masculino.

Alícia, que é uma mulher trans de Cuiabá, afirma que um dos maiores obstáculos para quem deseja passar pela transição de gênero em Cuiabá é enfrentar essa barra sem acompanhamento médico ou com acompanhamento despreparado.

Aos 18 anos, quando resolveu transicionar procurou ajuda médica, mas voltava para casa chorando, como conta a mãe dela, Selma, se sentia humilhada. “Uma psicóloga disse que isso não existe”, relata.

Alícia também se lembra deste momento. “No início de minha transição, tanto eu quanto minha mãe buscamos ajuda médica e, na única vez em que consegui ser atendida, acabei percebendo que eu conheço mais sobre o assunto que o profissional de saúde que me atendeu (não por má vontade dele, apenas lhe faltou orientação)”.

“Depois do ocorrido, decidi aprender por conta própria e passar por isso sozinha, por sorte não sofri complicações, mas durante o meu processo tive contato com outras meninas na mesma situação que eu. Algumas delas não tinham recursos o suficiente para bancar os custos de uma transição segura e optaram pelo uso de anticoncepcionais femininos. Apesar de eficazes para nosso objetivo, são bastante perigosos. Eu mesma fiz o uso desse tipo de medicamento certa vez. Senti na pele o peso dos efeitos colaterais. Minha mente ficou tão instável que tentei suicídio e acabei abandonando a universidade”, lamenta.

“Foi também nesse período que fiz amizade com uma menina que, para conseguir um corpo mais feminino e se adequar ao gênero ao qual se identifica, fez o uso de silicone industrial. Depois desse procedimento, ela perdeu muito em qualidade de vida”, relata.

“Tenho marcado em minha memória o dia em que presenciei essa amiga tendo complicações decorrentes do procedimento. O silicone desceu para os pés dela destruindo sua anatomia. Por sorte, ela não morreu”, conta.

“Por sorte”, segundo Alícia, talvez seja o que melhor define a situação de pessoas que passam pelo processo de transição de gênero em em Cuiabá. “Só mesmo com muita sorte para não ter complicações transicionando sem acompanhamento”.

Selma reclama que, para mães de pessoas trans, é uma eterna luta por segurança. “Sempre resgato minha filha machucada por pessoas ruins, evangélicas extremas, que não a deixa ir ao mercadinho da esquina em paz, minha filha é educada, linda, estudiosa, amorosa, fala inglês e espanhol fluentemente, traduz textos, faz artes gráficas”.

Mesmo assim, não tem direito de usar o nome referente ao gênero ao qual ela se identifica.

Casa de Amparo

Quanto à casa de amparo, ela é necessária porque muitas famílias, seja por desconhecimento ou preconceitos, ainda expulsam seus filhos de casa, quando descobrem que são de orientação sexual diferente da heterossexual ou que estes/estas  têm identidade de gênero diferente da cisgeneridade, ou seja, quando essas pessoas são trans ou não-binárias (que não se identificam exclusivamente como homens ou mulheres).

No abandono e na falta de educação formal, o caminho da prostituição é um dos que se abrem.

É comum de se ver, principalmente travestis, sem qualquer ou com pouco suporte familiar ou social, que frequentam o zero km em Várzea Grande e outros pontos de prostituição da cidade, expostas constantemente à curiosidade alheia e também a diversos tipos de violências.
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