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Urbanidade e Liderança: o dever de honra na eleição da OAB-MT

Bruno Casagrande e Silva

As eleições para a presidência da OAB-MT têm se mostrado um momento crucial para a advocacia mato-grossense, pois é nessa ocasião que se define não apenas a liderança da Ordem, mas também os rumos de toda a classe advocatícia do estado. Entretanto, recentemente, um episódio específico levantou reflexões importantes sobre o comportamento esperado dos candidatos e de seus apoiadores durante esse processo.

Uma presidente de subseção, após ponderar sobre o cenário político que se desenhava, decidiu mudar seu apoio de um grupo para outro. Essa decisão, que deveria ser respeitada como parte do livre exercício da escolha política, foi recebida com agressões – verbais e virtuais – e uma postura hostil por parte de alguns engajados na disputa eleitoral. 

Esse comportamento não apenas fere os princípios da ética e do respeito mútuo, mas também nos faz questionar o verdadeiro objetivo daqueles que se colocam à frente de uma disputa tão significativa.

Na advocacia, a urbanidade é um dever que transcende as normas básicas de convivência; é um reflexo da dignidade inerente à nossa profissão, um compromisso deontológico. Cada advogado, independentemente de sua posição ou influência, carrega consigo o compromisso de agir com respeito, moderação e cortesia. 

Esse dever é ainda mais acentuado quando se trata de uma eleição que definirá a liderança da OAB, uma instituição cuja missão é proteger e promover a justiça e os direitos fundamentais.

Comparar uma eleição a um jogo de xadrez pode parecer uma metáfora inusitada, mas ela é esclarecedora. No xadrez, o enxadrista é quem lidera as peças, planejando cada movimento com estratégia e precisão. Assim como o enxadrista que guia seus nobres e cavaleiros no tabuleiro, os candidatos devem agir como líderes que dirigem suas ações com ética e urbanidade, ponderando cada passo para alcançar o objetivo final. 

A vitória, neste contexto, deve ser o objetivo, mas só pode ser alcançada com honra e respeito, não apenas no jogo em si, mas também em relação aos adversários. Não há espaço para movimentos impulsivos ou para a agressividade desmedida; o foco deve estar em vencer de forma digna e respeitosa.

A presidência da OAB não é um troféu a ser conquistado a qualquer custo, tampouco um trampolim para projetos pessoais. É, antes de tudo, um dever de honra que exige dos candidatos um compromisso inabalável com o bem-estar da advocacia e da sociedade. Quando um candidato ou seus apoiadores optam por comportamentos agressivos, eles não apenas desrespeitam seus pares, mas também minam a confiança que a classe deposita na instituição. Tal atitude vai contra a própria essência da advocacia, que é, acima de tudo, a promoção da justiça e a defesa dos direitos.

Para aqueles que almejam a presidência da OAB, é fundamental que compreendam que a eleição não se trata de uma batalha de egos, mas de uma oportunidade de apresentar propostas concretas que possam fortalecer a advocacia no Mato Grosso. Cada discurso, cada ação deve ser pautado pela ética, pelo respeito e pela urbanidade. A verdadeira liderança se revela não no volume das palavras ou na agressividade dos gestos, mas na capacidade de agregar, de ouvir e de promover o diálogo.

Em um momento em que a sociedade observa atentamente os passos da advocacia, é imprescindível que os candidatos demonstrem, através de suas atitudes, o compromisso com os valores que regem a nossa profissão. A OAB-MT precisa de líderes que compreendam que a instituição não é um palco para vaidades pessoais, mas um espaço de construção coletiva, onde cada decisão deve ser tomada em prol do bem comum.

A advocacia sempre foi e sempre será uma profissão de relevância ímpar na luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Portanto, a eleição para a presidência da OAB-MT deve ser um reflexo dessa responsabilidade. Que os candidatos, como verdadeiros enxadristas no tabuleiro da advocacia, mantenham o foco em seu objetivo maior: a promoção da justiça e o fortalecimento da nossa classe com dignidade, respeito e urbanidade. Somente assim será possível construir uma Ordem forte, respeitada e capaz de enfrentar os desafios que se apresentam à nossa frente.

Bruno Casagrande e Silva é Advogado. Doutor e Mestre em Direito pela FADISP. Especialista em Direito Processual Civil. Diretor Secretário-Adjunto da ESA/MT. Foi membro do TDP da OAB/MT por três gestões. Professor de cursos de graduação e pós-graduação.
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