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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Filinto Muller e Fidel: catequese e revisionismo

É claro que Marx estava certo ao afirmar que é farsa toda repetição histórica. Engodo dos dois lados convém sublinhar: direita e esquerda que, extremados, rendem totalitarismos idênticos, subvertendo o fato histórico para forjar ficções. Surpreendentemente, comemora-se o aniversário de Fidel Castro, ao passo em que se tenta suprimir o nome do mato-grossense Filinto Muller do Senado Federal, onde foi senador por quatro mandatos. Temo que a “inteligenzza” tupiniquim ainda não saiu dos anos rebeldes e vive à margem da realidade esfumaçada de guetos esquerdistas.

Não é que, por esses dias, o projeto de político cuiabano mais carioca da baixada (qual baixada é que são elas...) aparece com a camisa estampada de Che Guevara? E não teve qualquer pudor em ser fotografado posando de revolucionário pensante. O mitológico Guevara foi um fracasso que, repaginado para publicidade, virou hit contemporâneo em canecas, chinelos, bandeiras e outros cacarecos. Inspirador do extermínio em massa, assim como outros companheiros, pretendia derrubar o sistema na base do golpe, do tiro e do paredão. Fidel, mais esperto, dispensou Ernesto pelo dinheiro russo, o que consolidou décadas de ditadura sangrenta dissimulada sob o manto publicitário de “justiça social”.

Filinto Muller, por sua vez, participou da Coluna Prestes, promovido a major revolucionário e, depois de entender que a quixotada iria fracassar, pulou fora da patacoada. É que os jovens têm direito de errar, mas os adultos não devem se dar ao luxo de cometer a burrice de permanecer no erro. Muller deu meia volta e ingressou na polícia, de onde levaria marcas reacionárias, é bem verdade. Foi alvo da verve demolidora de David Nasser, acusado de nazista por reprimir com violência os comunistas. Sob o placet de ninguém menos do que o Presidente do STF, o (libertário) Vicente Rao, cumpriu ordens de deportar Olga Benário para os campos de concentração alemães, onde foi assassinada numa câmara de gás.

Muller achegou-se ao integralismo, doentio admirador de Vargas, foi eleito em Mato Grosso senador por quatro vezes, presidindo a Arena, a sustentar o regime militar no período ditatorial. Curiosamente, Filinto tinha como suplente um comunista como suplente por mais de vinte anos. Recebeu gerações de cuiabanos no Rio de Janeiro, abrigando-os em empregos públicos e dando suporte para os estudos. Ao longo de trinta anos, subvencionou uma “república cuiabana” no largo carioca, onde se formaram muitos engenheiros, médicos e advogados das melhores famílias mato-grossenses. Aliás, estradas, hospitais e a própria Universidade Federal não teria nascido, não fosse pelas mãos dos Muller.

Os dois “revolucionários” apresentam faces cruéis. No entanto, para a mentalidade intelectualóide brasileira, Fidel, Guevara e outros maníacos homicidas são festejados como heróis, enquanto uma figura do calibre de Muller merece ser defenestrado da ala senatorial à qual empresta o nome. Infelizmente, o revisionismo histórico de fundo ideológico está em alta no atual governo. Nada mais previsível do que garantir polpudas pensões para muito eterno-universitário-perseguido e apagar a memória dos infames-direitistas-nazi-getulistas. Tenha dó! Maltratam a memória histórica a ponto de fantasiar realidades paralelas, torcendo o nariz para alguns e cheirando o perfume de outros ditadores.

Se há o cinismo de afirmar pública e reiteradamente que o ex-Presidente da República Lula da Silva não sabia do que se passava na sala ao lado, da mesma forma que Getúlio tentou esconder Gregório Fortunato, não há porque olvidar a cara-de-pau e comemorar um genocida como Fidel Castro, além de barbarizar com a memória de Muller que, a se comparar com o cubano, não passou do jardim de infância. História não é ficção ao bel prazer do governante de plantão, nem que seja repetida mil vezes. Gozado é que a esquerda brasileira aprendeu melhor do que ninguém o catecismo de direita, não é mesmo?

Eduardo Mahon é advogado.

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